Título: CHIP CEREBRAL PERMITE CONTROLAR OBJETOS COM A MENTE
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Fonte: O Globo, 13/07/2006, O Mundo, p. 32

Tetraplégico conseguiu movimentar prótese de mão e jogar no computador apenas com a força do pensamento

LONDRES. Um sensor implantado no cérebro de um homem tetraplégico permitiu que ele conseguisse controlar objetos apenas com o poder dos pensamentos. A tecnologia deu meios para que o indivíduo, que não tem qualquer movimento nos membros, abrisse e-mails e jogasse no computador, movendo os dedos de uma prótese de mão.

Os cientistas americanos responsáveis pelo desenvolvimento do sensor esperam que um dia ele possa ajudar na recuperação dos movimentos dos membros naturais de pacientes paralisados. As conclusões do estudo foram publicadas na última edição da revista ¿Nature¿.

Mattew Nagle é tetraplégico desde 2001, quando foi gravemente esfaqueado, e, desde então, vive numa cadeira de rodas. Ele foi o primeiro paciente a usar o sensor cerebral, chamado também de prótese neuromotora.

A prótese é composta de um sensor interno ¿ implantado na região do cérebro chamada de córtex motor, responsável pelos movimentos voluntários ¿ e de processadores externos. O sensor detecta atividade celular cerebral, enquanto que os processadores convertem essa atividade em sinais que podem ser reconhecidos por um computador. O computador também controla os membros artificiais que executaram movimentos.

O sucesso da empreitada foi possível porque embora a medula do paciente tenha sido afetada, sua atividade neural permaneceu intacta. Mas num segundo paciente testado, de 55 anos, o sensor não funcionou.

¿ Um dos excitantes resultados do estudo foi comprovar que essa parte do cérebro, o córtex motor, ainda podia ser ativada voluntariamente embora a coluna do rapaz tenha sido gravemente lesionada ¿ afirmou Leigh Hochberg, neurologista do General Hospital de Massachusetts, coordenador do estudo. ¿ O fato de a atividade cerebral permanecer, a despeito da lesão, é muito encorajador.

O co-autor do estudo, John Donoghue, diretor do Programa de Ciências do Cérebro da Universidade Brown, também se mostrou otimista:

¿ Os resultados nos dão esperança de um dia conseguirmos acionar membros naturais com esses sinais cerebrais, restaurando, de fato, o controle dos músculos pelo cérebro.

O neurobiólogo brasileiro Miguel Nicolelis, que desenvolve uma linha de estudo semelhante na Universidade de Duke, também nos EUA, criticou o estudo. Em entrevista à BBC, ele lembrou que a tecnologia não funcionou no paciente mais velho. E afirmou ainda que a experiência em uma só pessoa não demonstrou eficácia e segurança do produto por um período mais longo, nem testou movimentos mais complexos.

¿ Acho que ainda era muito cedo para usar essa tecnologia nesse tipo de teste clínico ¿ sustentou Nicolelis.