Título: QUANTO O PAÍS AINDA CONSEGUIRÁ AGÜENTAR?
Autor: Florencia Costa
Fonte: O Globo, 13/07/2006, O Mundo, p. 33

Os atentados a bomba em trens de Bombaim levantam uma importante questão: até que ponto a Índia pode ser pressionada?

Em 2001, Índia e Paquistão quase entraram em guerra quando um grupo de militantes, baseados no território controlado pelo Paquistão, atacou o Parlamento indiano, matando nove pessoas. A resposta indiana foi a mobilização de forças ao longo da fronteira. Medida adotada em seguida pelo Paquistão. O mundo se preparou para o que bem poderia ter sido a primeira guerra entre duas potências nucleares.

Mas devido a exaustivas mediações do Ocidente, as tensões baixaram e as forças foram desmobilizadas.

Desta vez, não é o Ocidente que precisa mostrar liderança, mas os dois países. Eles precisam reforçar palavras com ações. Os líderes de Índia e Paquistão iniciaram em 2005 ¿um processo de paz irreversível¿. A menos que ambos ajam, isso agora está em risco.

Três anos atrás, Índia e Paquistão iniciaram um ¿diálogo composto¿. E alguns pequenos progressos foram alcançados. Na ¿diplomacia do críquete¿, jogos entre os dois países abriram os olhos de indianos e paquistaneses um para o outro. Viram que aquele do outro lado se parecia com eles e gostava dos mesmos esportes. Pela primeira vez, mais de 50 ônibus viajam entre Índia e Paquistão, atravessando, inclusive, a linha de controle que divide a Cachemira. Trens e caminhões já fazem a viagem.

Mas até quando os indianos suportarão a pressão constante de grupos militantes antes de reagir? Por qualquer avaliação de diplomacia internacional, têm sido extraordinariamente pacientes.

Agora é o momento em que o Paquistão precisa responder. O país quer ser levado a sério no cenário internacional e freqüentemente pede aos EUA um acordo nuclear semelhante ao que existe com a Índia. Mas até que o Paquistão leve a sério desmantelar grupos extremistas que operam a partir de seu território, não pode esperar ser tratado como um jogador sério. O Paquistão está trabalhando nisso, mas precisa fazer muito mais.

Uma boa ¿ ou pelo menos estável ¿ relação entre Índia e Paquistão é um dos elementos mais importantes para a estabilidade global a longo prazo. Como ambos são potências nucleares, essa é uma das regiões mais perigosas do mundo. Com ataques como este, é também uma das mais voláteis. O Paquistão precisa fazer mais. Em troca, a Índia precisa se posicionar de forma realista e substancial em questões bilaterais, como a Cachemira. A terceira rodada de diálogo, marcada para a próxima semana é o lugar para isso.

XENIA DORMANDY foi diretora para o Sul da Ásia no Conselho de Segurança Nacional e escreveu este artigo para o Washington Post