Título: O próprio veneno
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 14/07/2006, O GLOBO, p. 2

Quando o PT estava na oposição criava todo tipo de constrangimentos para tucanos e pefelistas em votações como as do salário-mínimo e da Previdência Social. Agora, na oposição, o PSDB e o PFL tratam de retribuir a gentileza. A diferença é que no governo anterior esse embate político não paralisava a Câmara. Tucanos e pefelistas, ao contrário dos petistas, não tinham medo de votar.

Os petistas não querem passar pelo dissabor de freqüentar listas de inimigos dos trabalhadores e dos aposentados, como as que a CUT fazia contra os parlamentares tucanos e petistas no governo Fernando Henrique. Os petistas querem as benesses de ser governo mas sem o ônus de votar medidas impopulares, mesmo que responsáveis. A falta de disposição dos petistas ao sacrifício impede a formação de uma sólida base parlamentar governista na Câmara. Em vez de apoiar o governo Lula, os deputados petistas empurram para as mãos do presidente da República as decisões impopulares. Sem dúvida, trata-se de um apoio sui generis, que leva a um impasse permanente.

¿ O presidente Lula pode se desgastar com o veto, eles não podem se desgastar com o voto ¿ reclamou o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

O desabafo de Aldo, cuja gestão é afetada por esta paralisia, foi feito diante de um grupo de parlamentares do governo e da oposição. O problema é que os petistas, de olho nas eleições de outubro e já combalido por causa do escândalo do mensalão, não querem votar. Essa situação vem de longo tempo e o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) sempre ironiza dizendo que neste governo acontece um fato inusitado: o PT e a base aliada adotaram como regra a obstrução das votações. Essa mesma paralisia só não tomou conta do Congresso porque no Senado a oposição tem maioria e garante a realização das votações.

A falta de firmeza do PT em defender as decisões de seu governo e a sua incapacidade de aglutinar aquilo que um dia foi uma base aliada é que suscitam dúvidas sobre a capacidade que o presidente Lula terá para governar o país caso conquiste um segundo mandato em outubro. A questão da governabilidade está mais uma vez colocada no debate eleitoral. O partido do presidente eleito, seja ele o PT ou a coligação PSDB-PFL, tem que mostrar capacidade para liderar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Um partido de governo não pode jogar para agradar à platéia como se fosse da oposição.