Título: POLÍTICOS EM TESTE
Autor:
Fonte: O Globo, 14/07/2006, Opinião, p. 6

Àmargem do agravamento da crise de segurança em São Paulo evolui a luta política entre tucanos e pefelistas, de um lado, e, de outro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, e petistas. Já não fosse a segurança um tema por si só de grande apelo eleitoral, o fato de a crise recrudescer agora, com a campanha nas ruas, dificulta o imprescindível diálogo entre os Palácios dos Bandeirantes e do Planalto, crispa o relacionamento entre autoridades estaduais e federais, e com isso a criminalidade avança enquanto dá demonstrações de força sem ser reprimida de forma eficiente.

De ambos os lados tem havido manifestações de visível conteúdo político-eleitoral. Do radicalismo do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, com a afirmação desnecessária de que haveria ligações entre o PCC e o PT, da resistência do governo paulista a aceitar a oferta federal de mobilização da Força Nacional, ao comentário feito pelo presidente Lula também em tom de campanha: ¿Se São Paulo continuar achando que a situação está normal, o governo federal não pode fazer nada.¿ Pode. E deve.

É apenas formalmente correta a explicação dada pelo secretário de Segurança paulista, Saulo de Castro Abreu Filho, de que a tropa da Força Nacional, pelo tamanho e por ser composta por voluntários de várias regiões, em nada ajudaria num estado da dimensão de São Paulo. Não é assim. Por menor que seja o contingente, qualquer apoio especializado tem de ser aceito na situação em que São Paulo se encontra. E é positivo o balanço da atuação dessa tropa no Espírito Santo e no Mato Grosso do Sul. No mínimo, poderá reforçar a vigilância em presídios e liberar policiais para o patrulhamento das ruas.

Na verdade, o secretário, tucanos e pefelistas temem que alguma ação federal tenha êxito e venha a ser usada como bandeira nas disputas estadual e federal ¿ uma postura inconcebível, por relegar a plano inferior a segurança da população.

Se o secretário considera insuficiente a Força Nacional, que peça mais, reivindique. Por exemplo, a ajuda dos serviços de inteligência federais, pois sem a coleta eficiente de informações o poder público não conseguirá vencer a guerra.

Também se equivoca o petista que conta com dividendos eleitorais garantidos a partir da crise paulista. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, não se esqueça, ostenta ampla retaguarda desprotegida, por não ter se empenhado em aplicar o próprio programa nacional de segurança, anunciado em 2002 e apoiado até pela oposição.

O plano abria espaço institucional para o trabalho conjunto entre o governo federal, estados e municípios, única forma pela qual será possível conter e derrotar uma criminalidade articulada por sobre as fronteiras nacionais e internacionais. Um maquiavelismo de quinta categoria, porém, considerou melhor manter o presidente afastado da segurança pública para protegê-lo dos problemas dessa área. E assim o programa foi congelado em alguma prateleira. Também aqui o interesse da população de nada valeu.

A crise de segurança em São Paulo é um teste importante da seriedade e maturidade do político brasileiro. Não é hora de espertezas e manobras eleitoreiras.