Título: CELSO DANIEL: DIRCEU AINDA NA MIRA DO MP
Autor: Heliana Frazao
Fonte: O Globo, 14/07/2006, O País, p. 16

Com depoimento de irmão do prefeito, promotor pedirá ao STF aprofundamento da investigação

SALVADOR. O Ministério Público de São Paulo pedirá ao Supremo Tribunal Federal que reconsidere a liminar que impede o aprofundamento das investigações sobre a suposta participação do ex-ministro José Dirceu no processo de corrupção que pode ter resultado no assassinato do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, em 2002. Por duas vezes o STF barrou as investigações alegando que o Ministério Público paulista não tem competência para investigar o caso.

O promotor Roberto Wider Filho vai anexar cópia do primeiro depoimento formal prestado ontem à Justiça por João Francisco Daniel, irmão do prefeito. Ele reafirmou ao juiz Abelardo Paulo da Matta, da 8ª Vara Crime, em Salvador, o envolvimento do ex-ministro e do chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, como declarara ao promotor em 2002.

João Francisco diz que o dinheiro arrecadado no esquema de corrupção, comandado por seu irmão, envolvendo o transporte público de Santo André, era usado no financiamento de campanhas eleitorais do PT e levado por Gilberto Carvalho para o gabinete do então presidente nacional do PT, José Dirceu. Carvalho era secretário de Governo de Santo André.

Segundo o promotor, João Francisco deu um depoimento ¿seguro e firme¿, acusando outros três réus no processo: os empresários do setor de transporte Sérgio Gomes da Silva, Klinger Luiz de Oliveira e Ronan Maria Pinto.

¿ Espero que o ministro Eros Graus reconsidere o aparecer do ministro Nelson Jobim, por se tratar de um depoimento formal, colhido em juízo, e reflita sobre a necessidade de aprofundarmos as investigações ¿ disse o promotor.

Irmão do prefeito, ameaçado, mudou-se

João Francisco está convencido de que a morte de Celso Daniel decorreu de problemas no esquema de corrupção do qual ele tinha conhecimento, e concordava, por ser uma fonte de financiamento de campanhas petistas. Ele foi ouvido em Salvador por carta precatória porque, dizendo-se ameaçado de morte em São Paulo, juntamente com sua família, decidiu mudar-se para lá.

Celso Daniel foi seqüestrado em 18 de janeiro de 2002, quando voltava de um jantar em São Paulo. Dois dias depois, seu corpo foi encontrado com sete tiros, na região de Juquitiba, a 80 km de São Paulo.