Título: Petrobras rejeita reajuste do gás natural e cria impasse com Bolívia
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 14/07/2006, Economia, p. 28

Estatal brasileira diz que preço atual segue mercados, mas YPFB quer US$5

RIO e LA PAZ. A Petrobras reafirmou ontem sua disposição de não aceitar aumentos extraordinários de preços do gás natural importado da Bolívia. Essa posição foi anunciada depois de dois dias de reunião entre representantes da Petrobras e da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Esgotadas as negociações, que prevêem mais duas reuniões entre as partes, o assunto poderá ser decidido pela arbitragem internacional na Corte de Nova York.

Na segunda reunião entre as duas empresas, o grupo de técnicos da Petrobras apresentou os argumentos para não aceitar reajustes extraordinários. A companhia afirmou em nota que os reajustes trimestrais, previstos no contrato, são suficientes para manter os preços do gás natural alinhados ao mercado internacional. Assim, a Petrobras argumenta não ver motivos para alterar as bases do contrato, pois a YPFB não está sendo prejudicada.

Já a estatal boliviana afirmou ontem que a rejeição formal pela Petrobras da nova fórmula de cálculo do preço do gás natural paralisou as negociações. A YPFB pretende elevar imediatamente para pelo menos US$5 o preço do milhão de unidades térmicas britânicas (BTU), alta de 20% em relação ao preço atual.

¿ A posição que o Brasil assumiu é que (a fórmula atual de aumento) é normal e não deve ser modificada ¿ disse o presidente da YPFB, Jorge Alvarado.

Bolívia identifica 40 brasileiros ilegais no país

A próxima reunião entre as duas empresas, com data ainda a ser marcada, será realizada entre os dias 24 e 28 deste mês, no Rio de Janeiro. Haverá ainda uma última reunião, sem data ou local definido.

Segundo Alvarado, na próxima reunião a Bolívia manterá o argumento de que o preço do gás natural comprado pelo Brasil deve se aproximar do preço combinado dos combustíveis líquidos que o gás boliviano substitui no mercado brasileiro. Por esse critério, o Brasil deveria pagar hoje pelo menos US$7,50 o milhão de BTU, afirmou recentemente o ministro boliviano dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada.

O contrato existente, de 1999, prevê 45 dias para negociações. Se, após esse prazo, as discordâncias persistirem, o assunto será levado à arbitragem internacional.

Além do gás, os dois países discutem a questão das terras. Segundo a Agência Boliviana de Informações (ABI), o governo da Bolívia identificou 40 empresários brasileiros que detêm ilegalmente entre 200 mil e 300 mil hectares em terras de fronteira. Devem ser anunciadas medidas semana que vem.

(*) Com agências internacionais