Título: BLAIR DEVE PROPOR QUE BRASIL SEJA SÓCIO DO G-8
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Fonte: O Globo, 14/07/2006, Economia, p. 30

Primeiro-ministro diz que também defenderá, em encontro na Rússia, inclusão de outros quatro países no `G-13¿

LONDRES. O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, pedirá a inclusão do Brasil e de outros quatro países no G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, além da Rússia) durante o encontro do grupo, a partir deste fim de semana, em São Petesburgo, na Rússia, de acordo com reportagem publicada ontem no jornal britânico ¿The Guardian¿.

¿Blair está propondo que Brasil, China, Índia, África do Sul e México façam parte de um G-13 e acredita que os primeiros frutos de um maior engajamento pode ser um avanço nas emperradas negociações sobre comércio global, já na segunda-feira¿, segundo a reportagem.

A inclusão dos cinco países, segundo Blair, também facilitaria acordos multilaterais de mudanças climáticas e as discussões sobre o poderio nuclear do Irã. Esses países foram convidados para a cúpula do G-8.

Segundo o ¿The Guardian¿, Blair vai destacar a importância de ¿um multilateralismo muscular¿ no encontro, argumentando que a única solução para os problemas mundiais mais profundos está no fortalecimento de instituições multilaterais, com a disposição de discutir desafios como a paz mundial e a luta contra a pobreza.

Negociações climáticas também seriam beneficiadas

Blair também pretende pressionar pela aceleração de um projeto que suceda ao Tratado de Kyoto. A inclusão de China, Índia, Brasil, África do Sul e México nas discussões, nesse sentido, seria benéfica.

¿Não há como lidarmos com mudanças climáticas globais até que haja um acordo envolvendo Estados Unidos, China e Índia¿, disse Blair ao ¿The Guardian¿.

O primeiro-ministro também esperara que sua proposta de inclusão diminua as críticas sobre a realização do encontro do G-8 na Rússia, por causa da atual situação dos direitos humanos no país.

¿Blair está confiante que Vladimir Putin não poderá evitar um discussão sobre democracia, mas está consciente de que a ajuda russa é necessária para manter uma frente unida contra os movimentos do Irã na direção de conseguir uma bomba nuclear¿, diz a reportagem.

Amorim tenta encontro com comissário europeu

O chanceler brasileiro Celso Amorim esteve em Londres ontem numa tentativa de se reunir com o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, para tentar acertar um encontro sobre a Rodada de Doha durante a reunião do G-8, em São Petersburgo. As discussões sobre o comércio global na Organização Mundial do Comércio (OMC) estão emperradas e o governo do Brasil quer convencer os dirigentes das nações desenvolvidas a darem impulso político às negociações.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já agendou uma conversa com seu colega americano, George W. Bush, para a próxima segunda-feira. O Brasil é convidado, assim como líderes de outros países em desenvolvimento, para participar do encontro. O presidente vai à Rússia acompanhado do ministro Celso Amorim.

Lula chega a São Petersburgo amanhã. No domingo à tarde, ele se reunirá com líderes dos países em desenvolvimento que foram convidados para cúpula do G-8. No mesmo dia, também está prevista uma reunião entre Lula e o presidente mexicano, Vicente Fox. O governo mexicano tem interesses nos setores brasileiros energético e aeronáutico, mas há também algumas divergências entre os dois países em relação à liberalização comercial.

Lula tentará quebrar resistência americana

Embora tenham demonstrado interesse em discutir Doha em São Petersburgo, os EUA estão entre os países que mais resistem a um acordo comercial e é justamente essa resistência que Lula tentará quebrar no encontro bilateral que terá na segunda-feira. Os americanos afirmam que não vão reduzir os subsídios domésticos concedidos aos produtores agrícolas.

Bush chega à capital da Rússia hoje. Ele leva na mala dois acordos comerciais para ¿dourar a pílula¿ diante dos russos. Se fechado a tempo, um acordo pode ser assinado por Vladimir Putin e Bush para abrir caminho ao ingresso da Rússia na OMC. Um outro acordo, sobre o compartilhamento de tecnologia nuclear e de combustíveis com os demais países do mundo, também será negociado por russos e norte-americanos.

A Rússia ¿ grande exportadora de petróleo e gás ¿ escolheu a segurança no fornecimento de combustíveis para ser a peça central da cúpula. Mas, segundo diplomatas, o comunicado final terá poucas declarações de peso sobre o assunto.

A União Européia (UE) pressiona os russos para aderir a um pacto que abriria o setor energético do país a empresas estrangeiras. A Rússia tem resistido.