Título: VARIG: FUNDAÇÃO QUER PERMANECER NO COMANDO
Autor: Geralda Doca e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 14/07/2006, Economia, p. 31

Modelo de venda prevê FRB no controle da empresa antiga. Falta de apoio de credores pode resultar em falência

BRASÍLIA e RIO. A volta da Fundação Ruben Berta (FRB) ao processo de recuperação da Varig, apresentada ontem aos credores, pode resultar na falência da empresa. Para aprovar a proposta da VarigLog na assembléia de credores marcada para segunda-feira ¿ condição essencial para que a Justiça do Rio bata o martelo e evite o colapso da companhia ¿ os fornecedores públicos (Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora) exigem o afastamento da Fundação, possibilidade que vinha sendo cogitada até ontem mas que, na nova modelagem de cisão da companhia, foi descartada.

Ontem, em reunião prévia com advogados e diretores da Varig, os credores foram apresentados a um novo modelo de venda, que prevê que a FRB continuará controladora da antiga Varig ¿ que não será posta em leilão e ficará com a dívida de quase R$8 bilhões. A FRB hoje é dona de 87% das ações da Varig, apesar de não estar mais na gestão, por decisão da Justiça.

No modelo anterior aprovado pelos credores, estava prevista a transferência das ações da FRB na antiga Varig para um fundo chamado de FIP Controle, que incluiria papéis dos credores (dívida transformada em ações) e novos investidores, diluindo assim a participação da Fundação para até 5%.

Sem a aprovação dos credores, o juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo processo de recuperação da Varig, poderá ser obrigado a decretar a falência da empresa. Segundo o entendimento de credores, ele poderá responder judicialmente mais tarde se, à revelia da assembléia, fechar o negócio com a VarigLog e a velha Varig falir.

Os credores têm de aprovar a proposta da VarigLog para que o leilão de ativos possa ocorrer no dia 19. A reunião preparatória para a assembléia continua hoje.

¿ A volta da FRB é o maior obstáculo à aprovação da proposta pelos credores públicos ¿ disse uma fonte ligada às negociações.

O fundo de pensão Aerus também não deverá apoiar a proposta e está decidindo se votará contra ou se vai se abster na assembléia. A entidade tem poder de veto porque seu peso é de mais de 80% da classe 2 de credores. Caso isso aconteça, apenas o Banco do Brasil votará. Na classe 3, estão Infraero, BR e a maior parte das empresas de leasing. A oferta, segundo participantes do encontro, tem ainda a rejeição do grupo 1 (trabalhadores).

Na reunião de ontem, os participantes se desentenderam e os dois representantes da Fundação teriam se retirado da sala, contou uma fonte ligada às negociações. A informação sobre a volta da FRB foi dada na apresentação final do plano.

Na avaliação de integrantes do governo, a FRB tem de deixar o controle da Varig até por uma questão moral, devido aos inúmeros erros de gestão que levaram a empresa à atual situação. Também é consenso que nenhum credor poderá ser responsabilizado pela falência da empresa, apenas a Fundação, que nunca aceitou qualquer acordo no arrastado processo de salvação da Varig.

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, afirmou que o contrato com o Banco Brascan, responsável pela gestão do FIP, ainda não foi encerrado:

¿ Vamos ver como isso vai ficar já que o FIP Controle, salvo se alguém achar uma nova metodologia hoje ou amanhã, estaria descartado. A fundação nunca foi expropriada de suas ações. Mas a Varig remanescente ficará em recuperação judicial e terá um administrador judicial.

No plano apresentado ontem, consta ainda que a Varig antiga terá uma receita anual de R$19 milhões, resultado da operação de uma linha Congonhas-Porto Seguro, além de contratos firmados com a nova Varig para fretamento, prestação de serviços e aluguel dos imóveis (que ficarão com a antiga empresa). Segundo uma fonte, a dívida da Varig com os credores será paga com esses R$19 milhões, mais debêntures e os créditos da companhia referentes ao congelamento de tarifas no Plano Cruzado e a ICMS ¿ que seriam de R$4,5 bilhões e R$1,3 bilhão, respectivamente.

No dia 10 de julho, TGV fez nova tentativa de compra

O sistema de parcelamento da dívida com os credores, previsto no plano anterior, também deixaria de existir, e o pagamento seria feito a partir do fluxo de caixa da nova Varig. A fonte disse que o empresário Lap Chan ¿ que representa o fundo americano Matlin Patterson, acionista da VarigLog ¿ deixou claro no encontro que as questões trabalhistas, incluindo a demissão dos funcionários que não forem para a nova Varig, será de responsabilidade da empresa antiga. Segundo Lap Chan, a nova Varig ficará com 13 aeronaves e não 20, o que reduz de 2.500 para 1.500 o número de empregados na nova empresa.

Em meio à discussão sobre o futuro da Varig, o TGV fez nova tentativa para adquirir a companhia no último dia 10 de julho em petição apresentada na 8ª Vara Empresarial do Rio.