Título: INDIGNAÇÃO E TEMOR ENTRE LIBANESES NO BRASIL
Autor: Sonia Ines e Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 14/07/2006, O Mundo, p. 35

Muitos aproveitam verão para visitar parentes

SÃO PAULO. A morte dos dois libaneses naturalizados brasileiros e seus dois filhos no bombardeio da Força Aérea israelense ao sul do Líbano provocou indignação e temor na comunidade libanesa brasileira. É verão no Líbano e muitos descendentes visitam o país nessa época para conhecer ou rever parentes.

¿ O Líbano é um pequeno país. Todos os lugares são, portanto, alvos fáceis ¿ diz, temeroso, Fouad Mohamad Fakih, líder da comunidade libanesa no Brasil.

Morador de Foz do Iguaçu, como a família que foi vítima dos bombardeios, Fakih tem 14 parentes em viagem ao Líbano. Ontem tentou contato com eles, sem sucesso. Prefere acreditar que os bombardeios tenham causado problemas nas linhas telefônicas. Os familiares foram para o Vale do Bekaa, na região central do Líbano.

¿ Estou preocupado não só com minha filha e com meus familiares, mas com todos os libaneses. A crueldade contra o povo árabe, contra o povo libanês é odiosa.

Fakih mora no Brasil desde 1958. Mesmo longe sofreu com a guerra civil no Líbano. Ouvindo o noticiário sobre as mortes de conterrâneos, reviveu momentos que tentava esquecer.

¿ Acompanhamos a guerra civil libanesa, mas não tínhamos familiares lá. Hoje o sentimento em casa foi de tristeza. Pessoas foram lá conhecer familiares e agora estão com a vida em risco.

Estima-se que no Brasil vivam 10 milhões de libaneses e descendentes, a maior parte em São Paulo. Nascida na cidade de Kafarncechi, Afaf Saika se mudou para São Paulo há 40 anos anos, onde vive até hoje. Afaf ficou chocada com a morte do casal de libaneses e de seus filhos. O episódio relembrou a perda do primo Eli Karan, estudante morto num ataque a Beirute, em 1988.

¿ Ponho-me no lugar dos parentes e não desejo isso nem ao pior inimigo. É muito triste. São inocentes pagando por interesses de poderosos.

Mas nem a tristeza nem o medo acabam com o desejo de Afaf de voltar ao Líbano. A última visita foi há 5 anos, também durante um verão.

¿ Mesmo agora gostaria de voltar. É minha terra natal e nunca deixará de ser.

As mesquitas brasileiras foram orientadas a repassar informações do governo brasileiro à comunidade. Vice-presidente da Associação Mundial, o xeque Jihad Hassan Hamadeh mantém contanto permanente com a embaixada do Brasil no Líbano.

¿ Os aeroportos foram fechados. Há uma confusão generalizada.

*Da CBN