Título: MÍSSEIS MATAM TODA UMA FAMÍLIA BRASILEIRA
Autor: Sonia Ines e Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 14/07/2006, O Mundo, p. 35
Casal e dois filhos pequenos foram soterrados pelos escombros de sua casa no Líbano. Menino agonizou por 7 horas
FOZ DO IGUAÇU E RABAT. Libaneses naturalizados brasileiros, Akil Merhei, de 34 anos, e a mulher Ahlam Jabir, de 28, moravam há 16 anos em Foz do Iguaçu, mas há dois meses estavam de férias em Srifa, a 100 quilômetros de Beirute, com os filhos Ali, 8, e Fatma, 4. Na noite de quarta-feira, a aldeia de dez mil habitantes, onde moram os pais de Merhei, foi duramente atacada pelos bombardeios israelenses. Os quatro morreram na casa que construíam.
Parentes e amigos de Foz do Iguaçu souberam da notícia pela TV libanesa, às 21h30m de quarta-feira no Brasil.
¿ Eles disseram que cinco mísseis atingiram a casa da família Merhei, mostrando os destroços. Foi horrível vê-los mortos. Eles estavam visitando as famílias e nunca mais vão voltar ¿ contou o amigo Mohamed Mahoud Hijazi
Menino morreu a caminho do hospital
Por telefone, a família soube detalhes da tragédia.
¿ Eles ficaram sob os escombros por mais de sete horas. O menino foi retirado com vida, mas morreu a caminho do hospital ¿ acrescentou Hijazi.
O comerciante de eletrônicos Merhei vivia no Brasil há 20 anos. Os dois filhos nasceram em Foz do Iguaçu. Na casa onde moravam, no bairro Vila Portes, amigos relembravam a família nos brinquedos deixados pelas crianças e nas fotografias dos quatro.
¿ Era aqui que eles moravam e agora não há mais ninguém ¿ disse Hijazi apontando para a ampla cozinha.
Um dos três irmãos de Merhei tentava ontem embarcar para o Líbano para acompanhar o enterro e amparar os pais que estavam em estado de choque.
¿ O aeroporto está fechado, impedindo a viagem. Eles não conseguirão chegar ao Líbano ¿ disse Hijazi.
Outros brasileiros no Líbano também enfrentam um drama. O comerciante Ali Ahmad Hijazi, sua mulher e os quatro filhos correm risco no país, onde estão desde sexta-feira passada. De Kabrika, no sul libanês, ele contou que passaria a noite em abrigos antiaéreos. Hijazi disse que soube da morte da família Merhei:
¿ Éramos amigos e não posso nem ir até a aldeia deles porque é muito arriscado.
Duzentos mil brasileiros vivem no Líbano
Há cerca de 200 mil brasileiros no Líbano. Mas, segundo o cônsul-geral do Brasil em Beirute, Michael Gepp, a maioria é formada por libaneses que viveram no Brasil muitos anos e se naturalizaram brasileiros. Porém, muitos brasileiros aproveitam as férias para visitar parentes e fazer turismo. E foram estes brasileiros, de passagem pelo país, que pediram socorro ao consulado.
¿ Muitos ligaram querendo sair do Líbano, mas o aeroporto estava fechado e não há jeito ¿ contou Gepp.
Ontem, ele recebeu dez telefonemas de brasileiros. Alguns estavam desesperados, como o pai da carioca Juliana Andrade Vieira. Ele queria que o consulado embarcasse a filha de volta ao Rio. Como isso era impossível, Juliana foi para as montanhas, na casa de amigos. O consulado atendeu seis paranaenses, que pretendiam fazer uma excursão antes do bombardeio israelense.
¿ Primeiro, sugerimos a todos muita calma. Aos poucos a situação vai se resolver ¿ disse Gepp.
*Especial para O GLOBO, de Rabat