Título: ESCALADA DE VIOLÊNCIA NA FAIXA DE GAZA MOSTRA QUE CRISE É REGIONAL
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Fonte: O Globo, 14/07/2006, O Mundo, p. 37

Reação israelense revela preocupação com Irã e o radicalismo islâmico

GAZA. Os ataques aéreos ao sul do Líbano em retaliação ao seqüestro de dois soldados israelenses mostram que para Israel não se trata apenas dos palestinos e suas ações. É o problema maior do radicalismo islâmico ¿ do Hamas; e do Irã, uma potência regional com considerável influência sobre a Síria, o Hezbollah e a Jihad Islâmica.

Israel e Estados Unidos ainda alimentam a esperança de que o Hamas ¿ que é o braço palestino da irmandade islâmica ¿ aceite o seu papel de liderança política eleita e modere a rejeição ao Estado israelense, para melhorar a qualidade de vida dos próprios palestinos. Com relação ao Irã, tal esperança simplesmente não existe.

O presidente do Irã, numa declaração histórica, negou a existência do Holocausto e vem fazendo uma série de provocações a Israel. Mas, mesmo antes de sua eleição, o Irã se comprometeu a minar qualquer perspectiva real de paz entre israelenses e palestinos, incentivando forças como o Hezbollah no sul do Líbano e o grupo palestino Jihad Islâmica.

O Irã também é responsabilizado como o maior financiador de Khaled Meshaal, o líder exilado da divisão política do Hamas. Meshaal é acusado de coordenar a ala militar secreta do Hamas ¿ responsável pelo seqüestro do soldado israelense Gilad Shalit, num episódio que deflagrou a atual crise na região.

O seqüestro aconteceu exatamente no momento em que o governo palestino do Hamas, liderado pelo primeiro-ministro Ismail Haniyeh, estava concluindo as conversações com o moderado presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para a elaboração de um documento cujo propósito era reabrir as negociações com Israel.

No dia 22 de junho, apenas três dias antes do seqüestro de Shalit, Abbas e o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, estavam se abraçando, ainda que de forma relutante, num café da manhã, cujos anfitriões foram o rei Abdullah II, da Jordânia, e o prêmio Nobel Elle Wiesel.