Título: A APOSTA DE NASRALLAH
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Fonte: O Globo, 14/07/2006, O Mundo, p. 37

Na entrevista que deu na quarta-feira em Beirute, o líder do Hezbollah Hassan Nasrallah estava sorridente e confiante, mas havia algo diferente: o discurso de fogo e enxofre estava um tom abaixo do usual, suas ameaças eram apenas implícitas e as bravatas tinham desaparecido. Ele repetiu que o Hezbollah buscava a troca de prisioneiros, não a escalada da violência e, certamente, não a guerra.

Por trás da relativamente contida performance de Nasrallah está sua compreensão de que o seqüestro ganhou os corações dos palestinos no Líbano e nos territórios, bem como os de seus fiéis eleitores xiitas, mas não os daqueles que vivem em outras comunidades do Líbano.

Nasrallah fez uma aposta: primeiro, de que conseguirá a troca de prisioneiros, algo mais relevante do que o Exército israelense conseguiria com sua resposta militar. Segundo, que os círculos de poder do país não se voltarão contra o Hezbollah, ainda que Israel responda de forma dura, já que moradores de áreas significativas do Líbano, particularmente Beirute, se acostumaram ao way of life ocidental e poderiam ser forçados a pagar o preço.

A essa altura, líderes cristãos e sunitas que admiram esse estilo de vida não têm força suficiente para interferir com o Hezbollah. No limite, as operações israelenses só servirão para reforçar os pedidos de desarmamento da organização pró-Irã.

O Hezbollah, com o apoio iraniano e sírio, esperava que o ataque atingisse também a esfera palestina. Na verdade, a operação confirmou definitivamente o que havia sido levantado na entrevista de Khaled Meshaal (o líder do Hamas exilado na Síria): todo o processo palestino de tomada de decisão não acontece em Gaza ou na Cisjordânia, mas em Damasco, Beirute e Teerã.

Os palestinos comemoraram a operação. Mesmo Ahmed Abd al-Rahman, conselheiro de Mahmoud Abbas, descreveu o seqüestro como uma ação heróica.

Mas é difícil encontrar motivo para comemorações para além da vingança. Os presos palestinos não estão mais próximos de serem libertados e a operação imediatamente levou os palestinos para o ¿eixo do mal¿ junto com Irã, Síria e Hezbollah.

Abbas, o primeiro-ministro Ismail Haniyeh e outros são agora irrelevantes. Nasrallah, Meshaal, Damasco e Teerã determinarão o futuro dos palestinos a curto prazo.

HAREL e ISACHAROFF escreveram para o Ha¿aretz