Título: MUDANÇA DE VENTOS
Autor: Merval Pereira
Fonte: O Globo, 15/07/2006, O País, p. 4

Mesmo os tucanos mais otimistas não se sentem ainda em condições de vislumbrar uma vitória eleitoral na mudança dos ventos que a dança dos números das pesquisas insinua, mas a sucessão de informações corrobora a tese do candidato Geraldo Alckmin de que ¿antes de a novela das 8 mudar de horário¿, nada é definitivo nas eleições brasileiras.

A última pesquisa Vox Populi já mostra a possibilidade de haver segundo turno na eleição de outubro, e por enquanto quem está tirando votos de Lula é uma antiga aliada, a senadora Heloísa Helena, que subindo de 5% para 7% das intenções de voto caminha em direção aos dois dígitos, ajudando indiretamente o candidato tucano.

Mas não há dúvidas de que Alckmin inicia a campanha este ano em situação muito mais confortável do que o candidato José Serra em 2002, a começar pelo fato de que terá mais tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão do que Lula. Serra chegou a 23% dos votos válidos só no final do primeiro turno, enquanto Alckmin já está nas pesquisas com 28% hoje. Lula teve 46,4% de votos válidos no primeiro turno da eleição, número aproximado que aparece para ele hoje na média das pesquisas eleitorais.

Isso demonstra que o que ele perdeu de eleitores nas classes média e alta, recuperou nos setores mais pobres da população, especialmente no Nordeste, onde a última pesquisa do Datafolha lhe dá uma vantagem de 64% contra apenas 17% de Alckmin na região, diferença que é a principal razão para estar ainda em condições de poder vencer a disputa no primeiro turno.

O cientista político Antonio Lavareda, que faz pesquisas eleitorais para o PFL, diz que é muito difícil que os resultados regionais sejam tão dispersos como aparecem hoje nas pesquisas eleitorais, com Alckmin vencendo em algumas localidades, e Lula em outras. Lavareda garante que em nenhuma das últimas eleições o resultado das regiões foi diferente.

Em 2002, Lula venceu em todas as regiões do país, assim como Fernando Henrique nas duas eleições em que derrotou Lula no primeiro turno. Hoje Alckmin vence no Sul e, segundo algumas pesquisas regionais, já está superando Lula no Centro-Oeste. No Sudeste, tende a vencer em São Paulo e a reduzir a diferença para Lula em Minas e no Rio.

No Rio, a avaliação de Lula é 25% de ótimo + bom na capital, mas ele tem 38% de intenção de votos, uma diferença muito grande na avaliação dos pefelistas. Segundo essa análise, geralmente o candidato à reeleição tem de intenção de votos 85% do máximo da avaliação de ótimo + bom de seu governo. O problema do candidato tucano são as classes D e E no Nordeste, mas os coordenadores de sua campanha não acreditam que a diferença se mantenha como está hoje.

Para exemplificar, eles citam as máquinas eleitorais que a coligação tem na Bahia (PFL), Pernambuco (PMDB) e Ceará (PSDB) para afirmar que nada indica que a situação ficará como está. Em 2002, o candidato Serra teve apenas 8,5% de votos no primeiro turno no Ceará, pois o senador Tasso Jereissati apoiava a candidatura de Ciro Gomes.

Hoje, apesar de o irmão de Ciro ser candidato ao governo do estado com apoio do grupo de Jereissati, contra o candidato ao governo tucano Lúcio Alcântara, em nível nacional Tasso está engajado na campanha de Alckmin, enquanto Lucio Alcântara encoraja a chapa Lulu (Lúcio e Lula).

Também o senador Antonio Carlos Magalhães apoiou Lula em 2002, e hoje está mais empenhado do que nunca em derrotá-lo na Bahia. O fato é que o candidato tucano hoje parece ter palanques regionais bem mais equilibrados e empenhados em sua eleição do que o candidato José Serra em 2002. Mesmo os seus rivais internos no PSDB, o governador Aécio Neves, de Minas, e Serra, têm hoje razões para participar positivamente na campanha presidencial.

Para Serra, a vitória de Alckmin ajuda a alavancar sua votação para o governo do estado, e vice-versa. Também o governador Aécio Neves teve interrompida uma relação cordial com o governo Lula depois que o PT conseguiu cooptar o PMDB mineiro, tirando-o da coligação que apoiava Aécio para fortalecer a candidatura de Nilmário Miranda do PT, desmanchando a chapa que o governador havia montado, com tanto zelo, com o ex-presidente Itamar Franco candidato ao Senado.

Suplantado dentro do partido pelo ex-governador Newton Cardoso, que já foi o símbolo do mal para o PT mineiro, mas a quem o presidente Lula passou a chamar de ¿companheiro¿, Itamar Franco ofereceu seu apoio a Alckmin, e Aécio viu que era hora de trabalhar com mais afinco pelo candidato de seu partido.

Existem ainda alguns pontos de interrogação no xadrez partidário, como por exemplo no Rio Grande do Sul. Ontem o governador Germano Rigotto, que disputa a reeleição, desmentiu que tenha decidido apoiar Alckmin, embora acredite-se que ele não tenha outra alternativa, por que lá a polarização é PT versus PMDB. Rigotto reage ao lançamento da candidatura da deputado federal Yeda Crusius ao governo pelo PSDB, sem chances de vitória.

Aliás, o PFL acredita que os tucanos, ao lançarem candidatos a governos sem condições de vencer em alguns estados, atrapalham a formação de melhores palanques para Alckmin. Além do Rio Grande do Sul, estariam nessa lista o Rio de Janeiro, onde o secretário-geral do partido, deputado federal Eduardo Paes, lançou-se candidato impedindo um acordo com Denise Frossard, do PPS, que tem o apoio do PFL.

Em Mato Grosso, o PSDB lançou a candidatura do senador Antero Paes contra o governador Blairo Maggi, do PPS, e em Manaus o senador Arthur Virgilio é candidato contra Amazonino Mendes, do PFL, que deverá apoiar Alckmin mesmo assim. (Continua amanhã)