Título: AMORIM: DOHA ESTÁ NAS MÃOS DOS EUA
Autor: Eliane Oliveira e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 15/07/2006, Economia, p. 31

Chanceler diz que UE já concorda na OMC com corte de 50% nas tarifas

BRASÍLIA e SÃO PETERSBURGO. Em Londres desde a última quinta-feira, para um jantar a convite com o comissário de Comércio europeu, Peter Mandelson, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que ¿a bola da vez¿ na Rodada de Doha está com os Estados Unidos, que resistem à idéia de reduzir os subsídios domésticos. Amorim afirmou que o Brasil está mais próximo da União Européia (UE) na área de acesso a mercados e que isso ficou confirmado em seu encontro com Mandelson.

¿ A União Européia flexibilizou sua posição em acesso a mercados, e agora cabe aos EUA fazer um movimento em direção a um acordo. Se não houver sinalização clara de disposição de fazer um avanço em apoio doméstico, eu não vejo como fechar a rodada neste momento ¿ disse o chanceler.

Amorim acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião do G-8 (grupo dos sete países mais ricos e a Rússia), domingo e segunda-feira, na cidade russa de São Petersburgo. Lula chega hoje. Segundo o chanceler, a conversa com Mandelson serviu para mostrar que, pelo menos no atual momento, a UE está mais perto do G-20 (grupo formado pelos principais países em desenvolvimento). Em média, agora os europeus concordam com uma redução de tarifas de cerca de 50%, enquanto o G-20 propõe 54%.

¿ Foi um movimento positivo da União Européia. Eles estão muito próximos da proposta do G-20 ¿ disse Amorim.

Embora não esteja na pauta oficial do encontro, a Rodada de Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), será discutida em um almoço na segunda-feira, entre os líderes do G-8 e os chefes dos Estados convidados: Brasil, Índia, México, África do Sul, China e Congo ¿ este último representando os países africanos.

A discussão em torno do tema foi pedida pelo presidente Lula, que fará um discurso pedindo maior engajamento politico, sem o qual não haverá avanço nas negociações que se arrastam ao longo dos anos. Segundo fontes próximas ao presidente, Lula também dirá que, no acordo a ser fechado pelos membros da OMC, os países desenvolvidos precisam dar uma cota maior de sacrifício do que as nações em desenvolvimento.

Amanhã, Lula se reúne com os demais chefes de Estado dos países emergentes para tentar fechar uma posição conjunta para ser levada ao G-8. Depois, na segunda-feira, ele terá um encontro em separado com George W. Bush, proposto pelo próprio presidente americano.

Lula desembarca em São Petersburgo pronto para ¿vender¿, mais uma vez, a produção de etanol e biocombustíveis como uma das alternativas energéticas para o futuro. O presidente deverá ressaltar a nova descoberta do Brasil, o H-Bio, e a auto-suficiência em petróleo alcançada pela Petrobras, que estaria em negociações também com a gigante russa Gazprom.

(*) Enviada especial