Título: HEZBOLLAH: `VAMOS À GUERRA TOTAL¿
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Fonte: O Globo, 15/07/2006, O Mundo, p. 35

Grupo xiita ataca navio militar de Israel e recebe apoio da Síria. Beirute é alvo de mais bombardeios

BEIRUTE e JERUSALÉM

Israel continuou a atacar fortemente o Líbano ontem, tentando pressionar o país a acatar suas exigências para deter a ofensiva militar que já deixou mais de 60 mortos e 200 feridos, enquanto o grupo xiita libanês Hezbollah se disse pronto para a ¿guerra aberta¿ e voltou a disparar dezenas de foguetes contra cidades e localidades israelenses, além de tirar de ação com um ataque aéreo uma corveta inimiga. Sem condições de resistir ao poderoso vizinho, o governo do Líbano manteve suas precárias Forças Armadas aquarteladas e ficou como uma testemunha impassível do enfrentamento entre Israel e o Hezbollah, ainda que boa parte das vítimas sejam civis libaneses. Num comunicado, a Síria se disse pronta a apoiar o Líbano e o Hezbollah contra Israel.

No segundo dia dos ataques, a aviação israelense voltou a bombardear o aeroporto de Beirute, de onde cinco aeronaves civis ¿ quatro delas pertencentes à companhia Middle East Airlines ¿ conseguiram levantar vôo sem passageiros rumo à Jordânia antes de os mísseis caírem. A área sul da capital libanesa, na qual se encontram instalações do grupo radical xiita, também sofreu novos bombardeios. Um dos alvos foi o prédio onde vive o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, que, no entanto, não foi ferido. O QG e a rádio da organização também foram atingidos, assim como infra-estrutura civil do país. Israel já advertira os moradores das redondezas e ficarem longe de possíveis alvos, mas cerca de dez pessoas morreram nos bombardeios de ontem em todo o país, elevando para 66 o número de mortes nos dois dias da ofensiva, batizada de Operação Retribuição Justa.

¿ Vamos destruir a capacidade (bélica) do Hezbollah, do nível de sua infra-estrutura ao de suas personalidades ¿ afirmou o ministro do Interior de Israel, Ronnie Bar-On, ameaçando o líder do grupo. ¿ O próprio Nasrallah selou seu destino. Quando chegar o momento, acertaremos as contas com ele.

Procurando escapar da guerra, milhares de libaneses continuaram ontem a buscar refúgio na Síria: pelo menos 17 mil entraram no país vizinho pelo posto de fronteira da estrada Beirute-Damasco. Por sua vez, o Partido Baath, que governa a Síria, disse que o país vai apoiar o Líbano e o Hezbollah na luta contra a invasão israelense. Damasco, no entanto, não esclareceu se o apoio será somente verbal ou se envolverá alguma ajuda material.

Olmert: 3 exigências para deter ataques

Numa mensagem transmitida pelo canal de TV do Hezbollah, Nasrallah prometeu retaliar os ataques contra a população civil e levar a ¿guerra aberta¿ a novas frentes dentro de Israel.

¿ Vocês queriam a guerra total. Vamos à guerra total. Vocês terão de assumir a responsabilidade por seu governo, que mudou as regras do jogo. Nós também as mudaremos ¿ disse ele, dirigindo-se à população israelense. ¿ Os próximos dias serão entre vocês e nós. Vamos atacar muito mais longe do que Haifa. Não só os libaneses pagarão, mas também os israelenses.

Anteontem, dois foguetes caíram em Haifa, a terceira cidade de Israel, a 60 quilômetros da fronteira, numa área nunca atingida pelo limitado alcance dos Katiushas do Hezbollah, indicando que eles foram tecnologicamente melhorados. Ontem, o grupo continuou a fazer chover foguetes ¿ pelo menos 70 ¿ sobre o norte de Israel, alvejando principalmente Nahariya e Safed, cidades perto da fronteira, além de outras quatro localidades. Uma mulher e uma criança morreram num kibutz perto de Safed e mais de 50 pessoas ficaram feridas. O premier Ehud Olmert disse que o bombardeio ¿ o mais pesado em uma década ¿ ¿não pode e não vai continuar¿. Olmert estabeleceu três condições para deter a ofensiva de Israel no Líbano: a libertação dos dois militares seqüestrados no ataque na fronteira anteontem; o fim dos disparos de foguetes contra Israel; e o desarmamento do Hezbollah pelo governo libanês.

Enquanto o ministro da Defesa, Amir Peretz, indicava que não deve haver um fim rápido para a crise dos foguetes, milhares de moradores do norte de Israel continuaram ontem a fugir para o sul.

¿ A luta à nossa frente pode levar mais tempo do que foi anteriormente foi avaliado ¿ alertou Peretz.

Numa nova tática, o Hezbollah usou uma aeronave não-tripulada cheia de explosivos para danificar seriamente a corveta israelense ¿INS Tarshish¿ que bombardeara e bloqueava o litoral libanês. Não houve menção a vítimas, mas a rede de TV qatariana al-Jazeera, citando uma fonte não identificada, disse que quatro dos 80 tripulantes estavam desaparecidos. A embarcação foi rebocada de volta para Israel.

Na Faixa de Gaza, o Exército israelense retirou seus blindados de Deir-al Balah e Khan Yunes, no centro e no sul do território, invadido no dia 5 após o seqüestro do cabo Gilad Shalit por militantes palestinos. Por outro lado, aeronaves israelenses bombardearam o escritório de deputados do grupo radical Hamas e destruíram uma ponte.

Em Rafah, militantes explodiram parte do muro que separa Gaza do Egito e deixaram entrar no território cerca de mil pessoas presas na fronteira há mais de 20 dias. Seis pessoas morreram na espera, entre elas um adolescente operado no Cairo e uma criança que teve parada cardíaca.