Título: BEIRUTE REVIVE DRAMA DOS TEMPOS DA GUERRA CIVIL
Autor:
Fonte: O Globo, 15/07/2006, O Mundo, p. 37

Falta de energia elétrica e supermercados com pouca comida fazem moradores improvisarem para sobreviver

BEIRUTE e DAMASCO. A capital do Líbano está vivendo dias semelhantes aos de uma época que queria esquecer. A falta de luz, comida, transporte e comunicações por causa dos ataques israelenses fizeram os moradores voltarem a improvisar para sobreviver, como nos tempos da guerra civil que destroçou o país entre 1975 e 1990.

Desde quarta-feira, a população forma grandes filas no poucos supermercados abertos para comprar alimentos que possam resistir à falta de eletricidade como enlatados, arroz e açúcar. Uma das centrais elétricas da cidade foi bombardeada e vários bairros estão sem luz. As prateleiras ficam vazias rapidamente e os funcionários precisam repor estoques a todo o tempo. Em alguns bairros os alimentos já começam a faltar.

¿ Fui a um supermercado perto de casa e não achei pão, água e nenhum outro alimento não perecível ¿ disse um diplomata ocidental que pediu para não ser identificado.

O mesmo acontece nos postos de gasolina. Filas enormes de carros para abastecer e pouco combustível para dar conta da demanda, exatamente como nos anos de guerra. A falta de combustível e a destruição de pontes e ruas tornou o transporte público precário, praticamente inoperante. Empresas e lojas estão fechadas e a atividade econômica sofreu um duro golpe.

Muitos prédios sem energia também já estão em água

Antenas de telefonia celular também foram destruídas, dificultado as ligações, e a comunicação por internet foi afetada. Sem energia, muitos prédios já estão sem água. A falta de luz trouxe de volta ainda um antigo aliado de guerra: o gerador movido a diesel. Quem ainda tem tratou de tirá-lo do armário.

¿ Graças ao gerador continuamos puxando água da rua para os apartamentos. Sem ele, estaríamos numa situação ainda pior ¿ disse uma moradora de um bairro residencial sem luz.

Nas áreas da capital mais afetadas pelos bombardeios, cerca de cinco mil libaneses desalojados catam o pouco que conseguem de roupa e alimentos e se dirigem a povoados próximos para escapar dos bombardeios. A maior parte percorre o trajeto a pé. Um dos povoados mais procurados, Rmaich, que ainda não foi atacado, fica a cerca de cinco quilômetros da cidade.

¿ Mas quando chegam, as pessoas não sabem o que fazer, ficam pelas ruas. Quem ainda tem algum dinheiro, dorme cada dia em um lugar que julgue seguro, com medo dos bombardeios. Ir para outras regiões do país é quase impossível, e muito arriscado, por causa dos bombardeios nas estradas ¿ contou um morador.

Nas farmácias, a procura por calmantes e antidepressivos aumentou muito, segundo os vendedores.

¿ Estou vendendo para todo mundo que pede, sem qualquer restrição. É uma ocasião especial. Também é grande a procura por produtos de primeiros socorros. Estes nem tenho mais para vender. O pouco que tínhamos, ou já vendemos ou distribuímos entre os funcionários ¿ disse um balconista de uma farmácia.