Título: A mesma agenda
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 16/07/2006, O GLOBO, p. 2

O presidente da República que vier a ser eleito em outubro está condenado a executar um mesmo programa econômico. Economistas e líderes dos grandes partidos concordam que o próximo presidente terá que promover um ajuste fiscal permanente e sustentável. O presidente eleito não escapará de cortar os gastos públicos se quiser baixar as taxas de juros e viabilizar o crescimento.

O ajuste fiscal entrou na agenda dos governos brasileiros em 1999, depois da desvalorização cambial de janeiro que atormentou todo o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano, a exemplo do que fez o presidente Lula nos últimos três anos e meio, aplicou um ajuste fiscal baseado no corte dos investimentos e no aumento da carga tributária. O economista Raul Veloso, baseado em números oficiais, diz que os dois presidentes aumentaram a carga tributária praticamente na mesma proporção. Fernando Henrique aumentou em média 0,87 pontos percentuais/ ano e Lula, 0,76 pontos percentuais/ ano. Mas agora chegou a hora da verdade: o setor produtivo protesta cada vez com mais vigor contra o aumento da carga tributária e a sociedade já não suporta mais os cortes nos investimentos que inibem o crescimento da economia.

Os coordenadores do programa de governo do presidente Lula falam em aumentar os investimentos públicos para o Brasil voltar a crescer. O candidato tucano Geraldo Alckmin fala claramente em cortar gastos correntes com o mesmo objetivo. As duas receitas não escapam de um corte de gastos em áreas do governo. Do contrário, o Brasil voltará a conviver com o fantasma da incapacidade de gerenciar sua dívida pública, inibindo investidores nacionais e internacionais.

¿ O Lula, por pragmatismo, e o Alckmin não farão diferente. O próximo presidente tem um senhor abacaxi nas mãos. Não dá mais para aumentar impostos nem para cortar os investimentos. O eleito terá de fazer um ajuste cortando os gastos correntes. Não tem ideologia nem desejo ¿ resume Raul Veloso.

Mesmo que ainda exista espaço para aumentar a carga tributária, o presidente que assumir em 2007 terá de adotar medidas amargas. Entre elas: desvincular os benefícios da Previdência do salário-mínimo, para manter os aumentos reais do mínimo; fixar idade mínima para as aposentadorias do INSS; diminuir os benefícios previdenciários e segurar os reajustes salariais dos funcionários públicos.