Título: MENSALEIROS GANHARAM MAIS QUE A PF
Autor: José Casado
Fonte: O Globo, 16/07/2006, O País, p. 3

Emendas pagas a políticos acusados superaram investimentos no órgão que os investiga

O programa de investimentos federais foi montado, em vários casos, em sintonia com a ação de parlamentares cuja eleição interessa ao governo. O Executivo escolheu emendas aprovadas pelo Congresso ao Orçamento da União e liberou R$279,5 milhões, para alegria dos autores ¿ deputados e senadores que tentam a reeleição junto com Lula.

O bloco governista ficou com 81,9% das verbas federais. Não se trata de novidade ou peculiaridade da atual administração: na segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso (1999 a 2002), o governo financiou somente 6,1% das emendas aprovadas por parlamentares do PT.

O governo Lula fez a diferença nas regalias aos deputados denunciados pela Procuradoria Geral da República como integrantes da ¿organização criminosa¿ que operava o mensalão. Todos os acusados proclamam inocência.

Resultado da lógica orçamentária do semestre pré-eleitoral: a aposta governamental nos mensaleiros foi mais alta ¿ portanto, mais prioritária ¿ do que na modernização da Polícia Federal. Eles ficaram com R$11,5 milhões para patrocinar obras em seus redutos eleitorais. A polícia que os investiga recebeu apenas R$9,4 milhões para investimentos.

O deputado João Paulo Cunha (PT- SP), ex-presidente da Câmara, destacou-se como o mais privilegiado com verbas federais. Começou o ano eleitoral com R$3 milhões em emendas aprovadas. Recebeu no fim do semestre R$2,5 milhões do governo para seus projetos. E ainda conseguiu um extra, de R$12,6 milhões, para o seu reduto eleitoral, a cidade de Osasco, cuja prefeitura é controlada pelo PT.

O deputado Professor Luizinho (PT-SP) ocupa a segunda posição na lista de beneficiados. Ele também apresentara R$3 milhões em projetos. Foi contemplado com R$2,1 milhões em verbas federais. Ex-líder do PT na Câmara, ganhou uma ajuda adicional, com o aval do governo ao seu projeto da Universidade do ABC paulista (1.500 vagas, metade pelo sistema de cotas para alunos de escolas públicas, descendentes de negros e de índios).

Coincidência: a inauguração da escola, com o ingresso da primeira turma (500 alunos), está marcada para acontecer exatamente 27 dias antes da eleição.

Outros investigados por envolvimento no mensalão cuja reeleição foi impulsionada pelo governo com a liberação de verbas (veja quadro acima) foram os deputados Sandro Mabel (PMDB-GO), Pedro Henry (PP-SP), José Mentor (PT-SP), João Magno (PT-MG), Josias Gomes (PT -MG) e Wanderval Santos.

Até quem não concorre, mas pode atuar de novo como cabo eleitoral governista, foi favorecido, como o deputado licenciado José Janene (PP-PR) e o ex-deputado Pedro Correa (PP-BA). Janene, ameaçado de perda do mandato, recebeu R$500 mil. Correa, cassado em abril, levou R$300 mil.(José Casado)