Título: DESAFIO NOS JUROS
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Fonte: O Globo, 16/07/2006, Opinião, p. 6

OComitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne esta semana em um ambiente muito favorável à redução das taxas de juros.

As instituições financeiras consultadas pelo BC projetam para 2006 uma inflação abaixo de 4% ¿ mesmo levando em conta a hipótese de reajuste nos preços dos combustíveis, em face da continuação das cotações elevadas do petróleo no mercado internacional. E para 2007 todas trabalham com a premissa de que o ponto central da meta (4,5%) será atingido.

A economia deverá crescer este ano mais do que em 2005, o que não chega a ser um grande feito, dado que o resultado anterior (minguados 2,3%, em um período que a economia mundial esbanjou dinamismo) foi muito frustrante.

A queda da inflação para um patamar mais controlável é sem dúvida uma vitória que merece ser comemorada com satisfação pelos brasileiros, vítimas desse flagelo econômico por décadas. Agora o próximo desafio será conter a inflação com taxas de juros mais civilizadas, compatíveis com a realidade de economias com o mesmo grau de desenvolvimento do Brasil.

Os juros altos foram até aqui um mal necessário, devido à herança do passado inflacionário, e aos desequilíbrios estruturais da economia brasileira.

Nem tudo está resolvido, pois o equilíbrio das finanças públicas somente foi obtido por aumento de carga tributária. No entanto, foram feitos avanços significativos no campo macroeconômico ¿ e o principal talvez seja a diminuição da vulnerabilidade das contas externas brasileiras. O fantástico desempenho das exportações proporcionou uma queda da dívida externa e da dependência do país em relação aos financiamentos em moeda estrangeira. Assim, o câmbio deixou de ser um fator de perturbação, e não é mais um estopim para a inflação doméstica.

O Copom vem se mostrando atento a esse cenário e cortou as taxas de juros básicas para o nível nominal mais baixo desde o lançamento do real. Esta semana provavelmente a barreira dos 15% será quebrada, dando-se mais um passo para juros reais mais baixos. A continuação desse processo dependerá da reação da economia na prática.