Título: EM SP, TENSÃO TAMBÉM NOS PRESÍDIOS DO INTERIOR
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Fonte: O Globo, 16/07/2006, O País, p. 12

Descentralização feita no estado divide especialistas em segurança pública

SÃO PAULO. A organização da principal facção criminosa que age em São Paulo dentro das penitenciárias tem se repetido no interior. Assim como ocorria no Carandiru até 2002, quando o presídio foi desativado, as unidades espalhadas por pequenas e médias cidades do interior se transformaram em barris de pólvora, os chamados ¿carandirus caipiras¿. Lá, chefes de organizações comandam a ação de criminosos de dentro das celas.

No estado, 125.783 presos (quase 50% da população carcerária do país) se dividem em 144 unidades prisionais. Dentro deles, chefes de quadrilha articulam rebeliões em grandes complexos penitenciários, como os de Araraquara, Itirapina, Valparaíso, Mirandópolis, Presidente Bernardes e Presidente Venceslau, visitados pelo GLOBO semana passada.

Nessas unidades a tensão continua cerca de um mês após a última rebelião. Moradores dessas cidades e principalmente agentes penitenciários mudaram sua rotina. Funcionários transferiram a família para a casa de parentes em cidades próximas.

O governo de São Paulo priorizou nos últimos anos a construção de penitenciárias em todo o estado. Para abrigar os cerca de oito mil homens que deixaram o Carandiru, o governo paulista investiu R$100 milhões na construção de 11 unidades.

No entorno das cadeias, o medo também é comum. Para evitar a migração de parentes de presos para as cidades onde há penitenciárias, associações de moradores tentam impedir a criação de pousadas.

A descentralização do sistema carcerário de São Paulo e a construção de presídios menores no interior é polêmica mesmo entre especialistas em segurança pública. O coronel José Vicente da Silva Filho, secretário Nacional de Segurança Pública durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que há prós e contras na transferência dos presídios para o interior, mas considera a medida acertada. Já o advogado Ariel Castro Alves, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), acha que a transferência de presos para cidades do interior é uma das causas do clima de insatisfação nos presídios.

¿ A transferência de um preso da capital para um presídio em Presidente Venceslau, por exemplo, revolta os presos, pois seus familiares têm que viajar até dez horas para visitá-los ¿ disse Castro Alves. (Flávio Freire)

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