Título: TRATAMENTO CARO AUMENTA DRAMA DAS FAMÍLIAS
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 16/07/2006, O País, p. 18
Governo paulista descumpre decisão judicial e não banca as despesas de internação
SÃO PAULO. Não são apenas as famílias pobres que ficam desestruturadas por causa de autistas sem tratamento. A socióloga Marta Midori Yoshijima, de 44 anos, acaba de receber o ¿bilhete azul¿ da clínica onde seu filho Rodrigo Yoshijima Eurico Cruz, de 18 anos, está internado, em Araçoiaba da Serra (SP). A dívida é de R$ R$14.448 pelos últimos três meses. Rodrigo é sobrinho do ex-ministro da Comunicação Sérgio Motta, morto em 1998, que o tratava como a um filho.
¿ Quem, mesmo de classe média, consegue bancar R$4 mil, R$5 mil por mês? Estou em pânico. Se tirar meu filho, ele vai piorar. É a única clínica onde ele se adaptou. Não é pelo fato de ser classe média e ter mais informação que você sai desse ciclo miserável, tendo um filho autista¿ afirma a socióloga, que ainda conta com a ajuda do ex-marido, economista, nas contas. A renda de ambos, porém, é insuficiente.
Marta faz parte de um grupo de cem mães paulistas que conseguiram habilitação na Justiça para que o estado pague os tratamentos de seus filhos. Inutilmente, porque o governo paulista não cumpre a decisão judicial. A luta da família de Marta começou quando Rodrigo nasceu. Ninguém diagnosticava Rodrigo, que foi levado até aos Estados Unidos para exames. Foi apenas aos 9 anos que o diagnóstico foi confirmado. Mesmo internado, ele dá trabalho:
¿ Outro dia ele estava calmo e eu o levei comigo a um passeio. Numa loja, uma mulher se recusou a lhe entregar uma sacola que ele viu. Bastou para uma grande crise: ele começou a se bater, apertar meus braços. Mesmo menino, ele é um homem forte, de 1,82 m. Não consigo mais segurá-lo¿ lamenta Marta.
A advogada Maria Aparecida Bueno, de Jundiaí, é outra vítima de dificuldades e montou uma ONG de apoio a autistas. Seu filho André, de 13 anos, é portador de TDAH severo (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), mas chegou a ser diagnosticado como autista. A peregrinação da advogada para tentar ajudar o filho supostamente autista a fez descobrir outros meninos, principalmente mais pobres, confinados em lugares sombrios:
¿ Não é o autista quem tem que se abrir para o mundo. É o mundo que precisa acolher esses seres especiais por excelência. Posso assegurar, de cátedra, que a maior barreira para o autista é a desinformação, seguida do preconceito.