Título: METRÓPOLE SOBREVIVE A GOLPE
Autor: Florencia Costa
Fonte: O Globo, 16/07/2006, O Mundo, p. 42

Ataques não derrotam espírito resistente de Bombaim

BOMBAIM. Nem a brisa do Mar da Arábia que banha a metrópole consegue amenizar o medo e a insegurança dos habitantes de Bombaim. As sete explosões esfacelaram vagões do sistema de trem urbano ¿ veia que transporta diariamente seis milhões de pessoas. Mas a cidade não parou, como reza sua fama.

Afinal, Bombaim é a sede dos principais bancos privados, do Banco Central do país, da Bolsa de Valores, da Federação Nacional das Indústrias, e dos enormes estúdios de cinema de Bollywood. Na quarta-feira, a multidão voltou ao trabalho pelos mesmos trens atingidos no dia anterior. Outros passaram a semana percorrendo hospitais e necrotérios, em busca de parentes e amigos desaparecidos.

Bombaim continua um formigueiro, com seu trânsito pior que o de São Paulo, suas ruas lotadas de frenéticos riquixás, pessoas apressadas andando por ruas esburacadas, falando pelos celulares. Os milhões de miseráveis, ao lado de prédios luxuosos, continuaram sua rotina de catar restos de lixo, pedir esmolas.

Mas algo mudou no famoso ¿espírito de Bombaim¿ ¿ que todos resumem como sendo de resistência. Desde o 11 de julho, quem vive em Bombaim respira a sensação de fragilidade total. Não há dúvidas de que o centro financeiro e comercial da Índia é alvo fácil para os mais diversos grupos terroristas que atuam na região, principalmente islâmicos. Explosões já viraram rotina na trágica vida dessa cidade, já atormentada pelas enchentes das monções, que começaram mês passado, e pelos históricos conflitos religiosos entre hindus e muçulmanos, que ameaçam ressuscitar.

Há apenas três anos grupos islâmicos mataram mais de 78 pessoas em explosões nos principais ícones da cidade. As pessoas não esquecem a cena de destroços dos carros-bomba perto do famoso Portal da Índia, na beira do mar, de frente para o Hotel Taj Mahal.

Quem pode esquecer que o pior atentado do país aconteceu justamente aqui, há 13 anos? No dia 12 de março de 1993 Bombaim foi sacudida por 13 poderosas explosões, entre elas no prédio da Bolsa de Valores, na Dalal Street, coração financeiro da cidade. Morreram 257 pessoas. Os habitantes de Bombaim de fato são resistentes. Mas estão cansados, com medo e sentindo-se órfãos diante da inoperância das autoridades e da lentidão da Justiça. Não são poucos que prevêem novas explosões. As pessoas só se perguntam onde pode ser. Aconselham, em vão, a não freqüentar lugares muito lotados. Missão impossível em Bombaim. O ícone da riqueza e da pujança da Índia globalizada é alvo fácil para o terrorismo global. Hoje, o significado de seu nome ¿ dado pelos portugueses no século XVI, quando chegaram pelo Mar da Arábia ¿ está mais distante do que nunca: Boa Baía. (F.C.)