Título: UMA TRADIÇÃO DE 300 ANOS NA IRLANDA DO NORTE
Autor: Walter Oppenheimer
Fonte: O Globo, 16/07/2006, O Mundo, p. 41

Marchas já serviram de palco para conflitos religiosos

BELFAST. Dezenas de milhares de protestantes desfilam este mês pelas ruas da Irlanda do Norte. Como fazem há mais de 300 anos, comemoram o triunfo do protestante Guilherme de Orange.

Mas este ano tem algo de especial: pela primeira vez desde 1970 a segurança da marcha do dia 12 ¿ considerada a mais importante ¿ não foi feita pelo Exército Britânico, mas apenas pela polícia da Irlanda do Norte.

As mais de 12 mil marchas, grandes e pequenas, que ocorrem todos os anos, concentram-se, sobretudo, em julho. Nos anos mais tensos dos distúrbios eram o cenário ideal para representar o enfrentamento entre católicos e protestantes. Enquanto os protestantes reclamavam seu direito de desfilar pelas rotas tradicionais, os católicos tentavam impedir as marchas de entrar em seus bairros.

No 12 de julho, o centro de Belfast ficava virtualmente vazio, com lojas e restaurantes fechados, e as ruas totalmente à mercê de ativistas dos dois lados. O processo de paz trouxe uma boa dose de calma e senso comum à temporada de marchas. Ainda que o calor e a cerveja continuem sendo a fagulha ideal para iniciar distúrbios, há três anos não são registrados incidentes de maior gravidade durante a temporada de marchas.

Isso se deve, em parte, ao fim da violência, mas também à criação, em 1997, de uma comissão que tem a palavra final quando há algum desacordo sobre o roteiro.