Título: MERCOSUL VAI DEBATER LUCRO E DIVISÕES
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 16/07/2006, Economia, p. 35

Cúpula reunirá presidentes em meio a forte saldo comercial e divergências

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. Os presidentes do Mercosul voltarão a se reunir na próxima quinta-feira, na província argentina de Córdoba, numa atmosfera que combina forte crescimento do comércio com conflitos bilaterais que dificultam a integração. Segundo o secretário argentino de Relações Econômicas Internacionais, Alfredo Chiaradia, este ano o comércio entre os países do Mercosul deverá superar o recorde alcançado em 1998, de US$40 bilhões. Essa reativação, porém, convive com uma série de atritos, entre eles a disputa entre Brasil e Bolívia (membro associado ao Mercosul) sobre o preço do gás.

Já Argentina e Uruguai vivem uma crise diplomática desencadeada pela construção de duas fábricas de celulose na cidade de Fray Bentos, no lado uruguaio da fronteira. Quinta-feira passada, o Tribunal Internacional de Haia deu parecer favorável ao Uruguai. A Argentina também tem sérios conflitos com o Chile (outro membro associado ao bloco), relacionados às exportações de gás para o mercado chileno. O governo de Néstor Kirchner pretende reajustar e o preço ainda está sendo negociado.

O clima entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder da Bolívia, Evo Morales, tende a ser afetado pela falta de consenso entre a Petrobras e a petrolífera boliviana YPFB. A primeira não admite reajustes no preço do gás fora do previsto no contrato. A segunda insiste em mudar o tratado.

Há ainda a insatisfação de uruguaios e paraguaios. Para os dois sócios, Brasil e Argentina não estão cumprindo o princípio de reconhecimento das assimetrias econômicas e sociais entre os países do Mercosul. Por essa razão, por diversas vezes Paraguai e Uruguai ameaçaram deixar o bloco.

Um teste importante para o bloco será a entrada da Venezuela como sócio pleno. Críticos dizem que o presidente Hugo Chávez dará uma roupagem mais política ao Mercosul. Recentemente, Chávez propôs, por exemplo, a criação das Forças Armadas do Mercosul, projeto duramente criticado por importantes personalidades, como o ex-ministro da Economia argentino Roberto Lavagna.

(*) Correspondente