Título: EUA NÃO CHEGAM A ACORDO PARA RÚSSIA INTEGRAR OMC
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 16/07/2006, Economia, p. 35

Durante reunião do G-8, Lula tentará obter de Bush compromisso para salvar negociações da Rodada de Doha

SÃO PETERSBURGO A Rússia, anfitriã da reunião do G-8 (formado pelos países mais ricos do mundo, além dela própria), que acontece na cidade de São Petersburgo, fracassou na tentativa de obter a aprovação dos Estados Unidos para integrar a Organização Mundial do Comércio (OMC). Ainda haveria trabalho a fazer para a conclusão de um acordo comercial com os EUA.

Durante entrevista coletiva ao lado do presidente russo, Vladimir Putin, após a reunião prévia da abertura da cúpula, o presidente americano George W.Bush disse que o acordo, no entanto, está quase fechado.

¿ Este acordo deve ser aprovado pelo Congresso americano. ¿ disse Bush ¿ Continuaremos negociando de boa fé. Resta trabalho por fazer ¿ acrescentou ele, ao lado do presidente Putin.

O fracasso, no entanto, já havia sido antecipado pelo principal negociador russo, Maxime Medvedkov:

¿ Um protocolo (de acordo) não será assinado hoje, nem durante as próximas semanas ¿ explicou o diplomata.

O desfecho representa um duro revés para Vladimir Putin, que esperava anunciar a boa notícia da adesão à OMC durante a reunião das oito maiores potências mundiais.

As regras da OMC, integrada por 149 países e que regulamenta o comércio mundial, prevêem que qualquer novo membro deve assinar acordos bilaterais com os parceiros comerciais antes de poder integrar a organização.

Entre os principais pontos de divergência entre Washington e Moscou estão os serviços financeiros, como o direito dos bancos estrangeiros de abrir filiais em território russo. Outro ponto polêmico é a exigência dos americanos de mais facilidade para entrada de seus produtos agrícolas e de proteção à propriedade intelectual e respeito às patentes.

Brasil vê como positiva expansão para G-13

A idéia de uma ampliação experimental do G-8 para G-13, com a inclusão de cinco países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, entusiasma o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, mas ele reconhece que essa é uma discussão que deve se alongar por muito tempo. Ressalvando que o Brasil não está pleiteando essa ampliação, o ministro disse ontem, ao chegar à Rússia na comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que seria uma decisão positiva.

A proposta de ampliar o G-8 experimentalmente, que teria o apoio do primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, seria a de incluir países emergentes como Brasil, China, Índia, México e África do Sul.

¿ Se ocorrer, será uma coisa positiva. Mas essa é uma decisão do próprio G-8. Tenho notado muito empenho do primeiro-ministro Tony Blair. Mas não estamos reivindicando isso ¿ disse Amorim, citando o caso da incorporação da Rússia ao antigo G-7 (EUA, Inglaterra, Japão, França, Alemanha, Canadá e Itália):

¿ Espero que (a discussão) seja mais rápida do que com a Rússia.

O presidente russo Vladimir Putin declarou que apoiará o ingresso de Brasil, Índia e China no G-8.

¿ É difícil imaginar soluções eficazes na área econômica sem a participação das economias em rápido desenvolvimento ¿ disse Putin

Lembrando que foi graças aos esforços do presidente Lula junto a líderes dos países desenvolvidos que o impasse em torno das negociações da OMC se tornou tema do encontro em São Petersburgo, Amorim disse que amanhã o presidente brasileiro fará uma ¿forte mensagem¿ sobre a necessidade de se chegar a um acordo para destravar as negociações da chamada Rodada de Doha.

¿ É o tema mais atual e daí pode resultar em algo concreto que nos permita concluir as negociações ¿ disse Amorim.

Lula tentará divulgar uso de biocombustíveis

O presidente Lula chegou ontem a São Petersburgo, por volta das 18h30m (11h30m no Brasil) acompanhado dos ministros Celso Amorim, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).

A pedido de Lula, a Rodada de Doha será debatida na reunião do G-8. Lula e Bush terão um encontro reservado amanhã de manhã sobre o assunto. Em seguida, todos os líderes discutirão o tema durante almoço. A conversa com Bush se deve ao fato de os EUA estarem sendo acusados por europeus, brasileiros e outros membros da OMC de impedirem um acordo, mesmo que tímido, na Rodada de Doha. A expectativa é que os EUA sejam mais flexíveis.

Lula pretende, ainda, fazer propaganda dos biocombustíveis brasileiros, tão elogiados no mundo todo. Será uma oportunidade para falar sobre etanol, H-Bio (óleo diesel produzido a partir de mistura de óleos vegetais com petróleo) e outras fontes de energia renováveis.

O dia ontem foi de protestos em São Petersburgo. Cerca de 20 pessoas foram detidas em confrontos com a polícia em manifestação organizada pelo Partido Comunista.

* Com agências internacionais

CRISE NO ORIENTE MÉDIO OFUSCA AGENDA DO G-8, na página 40