Título: POR TRÁS DA CRISE, UM SALTO PARA A GUERRA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 16/07/2006, O Mundo, p. 40

Após o Hezbollah ter capturado dois soldados israelenses, na quarta-feira, um furioso general israelense Dan Halutz advertiu que o Exército de seu país iria ¿fazer o Líbano retroceder vinte anos¿. Infelizmente, aquele comunicado era mais verdadeiro do que parecia ser.

Ao acertar o aeroporto de Beirute e outros alvos civis, os israelenses deram um passo atrás no tempo, adotaram táticas que tinham sido usadas repetidamente no Líbano e nos territórios palestinos sem muito sucesso. Muitos libaneses estão furiosos com o líder do Hezbollah, Hansan Nasrallah, por ele ter provocado a crise, mas não foi o Hezbollah até o momento o lado mais enfraquecido.

O resultado é muito parecido ao que aconteceu em Gaza: ataques israelenses para libertar um soldado promoveram um enfraquecimento da Autoridade Nacional Palestina sem causar muitos danos aos terroristas. Observando os eventos recentes, percebemos uma reapresentação de um velho filme, no qual guerrilhas e seqüestradores terminam como vencedores.

O premier de Israel, Ehud Olmert, quer seguir os passos firmes de seu antecessor, Ariel Sharon. Mas a insistência no replay da invasão do Líbano, em 1982, cai no mesmo erro estratégico que naquela época originou o Hezbollah. Mas existe uma parte nova na crise: o apoio de radicais iranianos, satisfeitos em abrir mais um front numa guerra que, em suas mentes, vai de Gaza ao Iraque.

Assistindo à arrogante performance de Nasrallah numa entrevista, percebi que ele estava praticamente convidando Israel a um contra-ataque, sabendo que isso desestabilizaria o governo libanês de Fuad Siniora, um dos que menos recebem apoio de fato da política externa americana.

Neste cenário, temos uma terrível constatação: o Irã e seus aliados estão empurrando os lados envolvidos para a guerra. Esta é a fria realidade por trás dos eventos da última semana. Na terça, iranianos desprezaram incentivos oferecidos para a interrupção do enriquecimento de urânio. Na quarta, seus aliados do Hezbollah fizeram o que Israel qualificou de ¿ato de guerra¿. Os radicais querem levar EUA e Israel para um atoleiro de morte. Nós não devemos jogar esse jogo.

DAVID IGNATIUS é colunista do "Washington Post"