Título: Dengue volta a matar no estado
Autor: Simone Miranda* e Ruben Berta
Fonte: O Globo, 17/07/2006, Rio, p. 9

Dias depois de o Ministério da Saúde ter apontado um aumento de 1.982% no número de casos de ass='destaque1'>dengue no estado no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, um novo sinal de alerta: um mecânico de 24 anos morreu na madrugada de ontem vítima da forma hemorrágica da doença, em Magé, na Baixada Fluminense. Casado há oito meses e pai de um bebê de 2 meses, Cristiano Soares de almeida teve os primeiros sintomas na quarta-feira passada. a família acusa o Hospital Municipal de Magé de ter demorado a dar o diagnóstico e alega ter havido demora na aquisição de sangue para transfusão.

¿ Na quarta-feira, o médico do hospital disse que meu marido tinha uma virose. Deram soro, um analgésico e o mandaram para casa. Ele só foi piorando até que, no dia seguinte, resolvi levá-lo à Casa de Saúde Nossa Senhora da Piedade. Foi lá que o médico desconfiou de ass='destaque1'>dengue e pediu o exame. Na sexta-feira, o resultado mostrou que ele já estava com baixa de plaquetas no sangue ¿ contou a viúva do mecânico, Quele Paz de almeida, de 20 anos, explicando que Cristiano foi novamente liberado para dormir em casa.

No sábado à tarde, mais debilitado, o mecânico foi novamente levado ao Hospital Municipal de Magé. Segundo a família, Cristiano permaneceu lúcido, mas teve sangramento pelo nariz, pela boca e na urina.

¿ Ontem, ele já havia tomado oito litros de soro e sua contagem de plaquetas estava em 37.000/ml (o parâmetro normal varia de 150.000 a 350.000/ml). Os médicos diziam que só poderiam solicitar sangue ao HemoRio quando baixasse para 31.000/ml ¿ lamentou Paschoal Palarine Filho, tio da vítima.

Por ass='destaque2'>volta de meia-noite, quando o número de plaquetas diminuiu ainda mais, um carro teria saído de Magé para buscar sangue no HemoRio. Mas Cristiano morreu à 1h15m, antes de o veículo ass='destaque2'>voltar à cidade.

a prefeita de Magé, Núbia Cozzolino, disse que o município vem intensificando as ações contra o aedes aegypti. No centro da cidade, no entanto, um valão tomado por matagal na Rua Duque de Caxias é apontado por moradores como foco do mosquito. a prefeita acusou ainda o HemoRio de criar dificuldades na liberação de sangue para a cidade. Hematologista do instituto, Marília Rugani estranhou a informação de que seria necessário apontar uma concentração mínima de plaquetas para que o HemoRio liberasse sangue para o hospital:

¿ Não há qualquer conduta como essa no HemoRio.

Especialista aponta falta de informação

Para o epidemiologista Edmílson Migowski, professor da UFRJ, dois fatores têm sido preponderantes para o crescimento da ass='destaque1'>dengue no estado: falta de controle do vetor da doença e pouca informação dos doentes.

¿ Já é um absurdo termos ass='destaque1'>dengue no estado. absurdo maior é que pessoas estejam morrendo da doença. Como não existe uma rotina de treinamento dos profissionais, ocorrem erros na orientação dos pacientes. as pessoas vão para casa e acham que, quando passou a febre, já estão livres da doença. No caso da ass='destaque1'>dengue hemorrágica, as mortes acontecem exatamente no quarto, quinto dia, quando não há mais febre ¿ afirma.

Segundo Migowski, os quatro fatores que constituem um quadro grave de ass='destaque1'>dengue são simples de serem detectados, mas falta informação, principalmente nas regiões mais carentes do estado. São eles: sangramento significativo, vômitos, dor abdominal intensa e a queda de pressão. O epidemiologista diz que tem visto nas autoridades um quadro de ¿imobilidade¿ na prevenção da doença:

¿ Não precisamos de só um Dia D contra a ass='destaque1'>dengue, mas de um D de década de combate. Se o vírus do tipo 4 chegar ao país, como as pessoas não estão imunes, teremos uma epidemia de grandes proporções.