Título: Sadia faz oferta pela Perdigão
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 17/07/2006, Economia, p. 14

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Um gigante está prestes a surgir no mercado brasileiro de alimentos. A Sadia fez ontem uma oferta pública voluntária pelas ações da concorrente Perdigão, operação conhecida no mercado como oferta hostil. O negócio, de R$ 3,7 bilhões, criará uma empresa com faturamento de R$ 14 bilhões, receita líquida de R$ 12 bilhões e 81 mil empregados.

¿ A sociedade brasileira, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) têm que decidir se querem um grande player competindo com as grandes multinacionais, que não nos deixam aumentar nossas exportações. Essa operação vai nos dar condições de desbravar mercados ¿ disse Luiz Murat, diretor-financeiro e de Relações com os Investidores da Sadia, empresa que tem entre seus acionistas o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Segundo o diretor, a opção pela oferta pública veio após várias tentativas frustradas, no passado, de compra da Perdigão. Outro fator decisivo, segundo a empresa, foi a pulverização de ações da concorrente, este ano, o que impediria oferta direta aos principais acionistas.

O diretor de Relações Institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes, afirmou que a empresa recebeu ¿com surpresa¿ a oferta da Sadia. Segundo ele, não havia qualquer tipo de negociação formal entre as duas companhias ou mesmo intenção dos acionistas de vender o controle da Perdigão. Mas Menezes admitiu que o ingresso da empresa no Novo Mercado da Bolsa de São Paulo, que permite a negociação apenas de ações ordinárias, deixou uma porta aberta para propostas desse tipo.

¿ Estávamos conscientes desse risco. Agora, cabe aos acionistas decidirem se querem continuar donos de uma empresa que tem apresentado crescimento certo e gradual nos últimos 11 anos ou se querem vender seu controle ¿ disse.

Negócio terá que ser analisado pelo Cade

A Sadia oferece R$ 27,88 por cada ação ordinária da Perdigão, único papel disponível no mercado. Esse preço, segundo Murat, foi calculado com base no preço médio da ação dos últimos 30 dias, mais 35% de prêmio. O objetivo da Sadia é obter 50% mais uma ação da empresa até 24 de outubro. Caso contrário, a oferta perde a validade.

¿ Foi o maior preço entre três critérios analisados, que incluiu o valor da última chamada de capital e do laudo econômico elaborado pelo Bradesco ¿ disse Murat.

A operação só será concretizada se o Cade aprovar. De acordo com a própria Sadia, a fusão fará com que a nova empresa tenha 25% do mercado nacional de frango inteiro e de carne suína e ficará com mais de 80% do de tortas salgadas. No segmento de pizzas, de presunto e de pratos prontos, terão mais de 50% do mercado nacional. Negócios que envolvam concentração de 20% do mercado ou sejam superiores a R$ 400 milhões precisam passar pelo Cade:

¿ Nosso objetivo é ganhar mercado internacional. Com a união, seremos o segundo maior exportador de proteína animal do mundo e o terceiro maior produtor mundial de frango ¿ disse Murat.

Por enquanto, as empresas vão permanecer com personalidades jurídicas distintas, até que o Cade aprove a operação. O que poderá ser feito nesse momento é usar os mesmos navios para exportações e o mesmo distribuidor nos locais de vendas externas. Ainda não há nome para a nova empresa. O negócio terá o aval do ABN Amro Bank, que emitiu carta de crédito do valor da compra. Murat disse que a Sadia tem dívida líquida de R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões em caixa. Desse total, poderá destinar R$ 1 bilhão para a compra de ações. Os acionistas que não aceitarem a oferta poderão participar da reestruturação, com a troca de ações.

A fusão, afirmou Murat, não provocará demissões. Segundo ele, os planos de expansão da companhia permanecem, com previsão de admissão de oito mil funcionários nos próximos três anos.

Após comunicação à Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, o governo terá 120 dias para decidir sobre a operação. Em seguida, o Cade analisa, podendo impor restrições ao negócio ou exigir venda de bens. O órgão tem 60 dias para analisar o processo, mas casos complexos podem demorar mais de dois anos.

COLABORARAM Aguinaldo Novo e Henrique Gomes Batista