Título: Mulheres dominam mercado de negócios informais. Renda é de 1 mil
Autor: Eliane Oliveira e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 17/07/2006, Economia, p. 15
BRASÍLIA. Os micro e pequenos empresários brasileiros vivem realidades opostas, quando são divididos em formais e informais. Não apenas em termos de renda e escolaridade, mas também quanto ao gênero. Um levantamento inédito realizado pelo Sebrae entre os meses de março e maio deste ano mostra que a informalidade é dominada por pessoas do sexo feminino (60% do total), enquanto os homens representam 40%. Entre os empreendedores formais, 58% são homens e 42% são Mulheres.
O índice de escolaridade entre os informais é bastante baixo: nada menos do que 65% dos empreendedores nesse caso têm até o ensino fundamental, 22% concluíram curso técnico e apenas 4% têm nível superior. A idade média é de 42 anos e a renda familiar, de R$ 1.042.
Renda dos formais é de cerca de R$ 3,6 mil
Na formalidade, a renda é de R$ 3.607 e a idade gira em torno de 37 anos. Metade estudou até o ensino médio, 44% têm curso técnico e 34% concluíram o ensino superior. Por ramo de atividade, 34% dos informais estão em comércio e reparação. Entre os formais, 60% têm um sócio ou mais, contra 35% sozinhos.
¿ O que dá para perceber é que muitos empreendedores se mantêm na informalidade por absoluta impossibilidade. Não há como ser formal se o faturamento não for acima de R$ 60 mil por ano. Os custos são altos ¿ afirma o gerente de gestão estratégica do Sebrae Nacional, Gustavo Morelli.
Ele destaca que há dez milhões de informais no Brasil, contra cinco milhões de formais ¿ ou seja, dois empreendedores na informalidade para um na formalidade. E frisa que é importante separar a informalidade da ilegalidade.
¿ Há empresas formais vendendo produtos ilegais e há informais que vendem produtos legais, que só não estão devidamente registrados, porque não têm escala para isso ¿ diz Morelli.
O dentista Elder Macedo afirma que vale a pena ter seu negócio, mesmo que este seja dividido com outros dez sócios. No entanto, Macedo, que tem mais de 30 funcionários em sua clínica, diz que o pequeno empreendedor enfrenta dificuldades, especialmente na folha de pagamento, por causa dos encargos.
¿ Além disso, de forma geral, muitas empresas não têm formação nessa área do empreendedorismo, com exceção do Sebrae. Na área de saúde, por exemplo, não aprendemos nada disso na universidade ¿ afirma Macedo.
Eli Porto, vendedora de roupas há nove anos, é uma exceção entre os informais. Conseguiu se formar em Matemática, pagando a faculdade com o dinheiro de suas vendas, que lhe rende cerca de R$ 2 mil por mês. Ela conta que, para manter sua rede de clientes e conquistar novos negócios, procura dar um tratamento diferenciado, oferecendo ajuste de roupas e atendendo em domicílio.
¿ Agora, estou estudando para um concurso público. Quero me desligar dessa atividade e me tornar uma empregada com direito a férias e outros benefícios que nós não temos ¿ diz ela.
Dono de uma agência de carros usados no município de Luziânia, Goiás, Rafael Lemos está entre os empreendedores do setor formal que não conseguiram concluir o ensino médio. Não teve tempo, pois precisou trabalhar cedo, explica. Antes de montar sua empresa, trabalhava em concessionária:
¿ Minha empresa é micro, mas tenho trabalhado para que ela cresça a cada dia ¿ diz ele, que já chegou a faturar R$ 6 mil por mês. Agora consegue, em média, R$ 1.500.