Título: Cenário turbulento reforça indicação por aplicações menos arriscadas
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 17/07/2006, Economia, p. 16

A onda de violência no Oriente Médio, as especulações em torno de novas altas de juros nos Estados Unidos e o calendário eleitoral prometem um segundo semestre agitado para os investidores. Analistas alertam que os próximos meses devem ser marcados por fortes oscilações no mercado financeiro e, para proteger-se, o investidor deve evitar aplicações de risco, como a Bolsa, concentrando os recursos nos fundos DI e de renda fixa.

Para os especialistas, as maiores preocupações são com o Cenário externo, que deve tornar o segundo semestre mais turbulento do que o que passou. Gustavo Barbeito, analista da Prosper Gestão de Recursos, diz que são justamente as incertezas em relação aos juros nos Estados Unidos e à situação no Oriente Médio que tornam difícil a tarefa de se traçar um Cenário para os próximos seis meses:

¿ Há muitas variáveis importantes que não serão definidas a curto prazo. Por isso, o mercado tem andado mais retraído, cauteloso e bastante volátil. No Cenário atual, uma boa alternativa seria aplicar nos fundos DI, que têm risco baixo e acompanham a trajetória da taxa de juros ¿ aconselha.

Juros altos estimulam aplicação em renda fixa

Francisco Costa, sócio da Personal Investimentos, avalia que o maior risco está numa alta além do esperado dos juros americanos:

¿ Isso poderia desacelerar a economia dos EUA de uma maneira mais brusca. Além disso, juros americanos mais altos tornam menos interessante a aplicação em ativos de países emergentes, o que promete trazer oscilações mais fortes para o mercado brasileiro. Uma das opções seria aplicar em fundos DI e de renda fixa, diversificar com multimercados e ser seletivo nas aplicações em Bolsa.

Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset Management, diz que as taxas de juros no Brasil ainda estão em níveis elevados ¿ 15,25% ao ano ¿ o que justifica a aplicação em fundos de renda fixa:

¿ A aplicação compensa: mesmo que os juros caiam, o investidor terá sua remuneração prefixada, ganhando uma taxa mais elevada que a atual.

Ele indica também os fundos que aplicam em títulos que seguem a variação da inflação:

¿ Eles rendem inflação mais juros. Se a inflação cair, o investidor ganha a variação dos juros no período. Se, por outro lado, a inflação subir, ele ganhará duas vezes ¿ explica.

Analistas estimam o câmbio a R$ 2,25 no fim do ano

Quem pensa que as turbulências podem tornar o câmbio um bom investimento ¿ já que a tendência seria de alta da moeda americana ¿ um aviso dos analistas: aplicações em dólar valem apenas para quem tem dívidas na moeda. Para eles, apesar da turbulência, o dólar, que hoje vale R$ 2,213, deve fechar o ano em R$ 2,25.

Segundo Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora, o calendário eleitoral deve gerar turbulências não antes, mas sim depois das eleições presidenciais:

¿ Como os principais candidatos não representam risco de ruptura com a política macroeconômica vigente, o mercado não está preocupado agora. Mas, após as eleições, o mercado avaliará a força política do presidente eleito para avançar nas reformas estruturais. Caso o presidente Lula seja reeleito, espera-se uma base parlamentar frágil e fragmentada, o que dará margem para especulações no mercado.

Marcelo Mesquita, estrategista do banco UBS, acredita que, apesar dos riscos, a Bolsa ainda tem boas oportunidades:

¿ Uma opção seriam as ações ligadas ao crescimento brasileiro, como as do setor de consumo e alimentos. Mas será preciso sangue frio para suportar o sobe-e-desce intenso que esperamos para a Bolsa no segundo semestre.