Título: Incerteza nas campanhas
Autor: Ludmilla de Lima e Chico Otavio
Fonte: O Globo, 10/07/2006, O País, p. 3

O primeiro domingo de campanha no Rio de Janeiro foi marcado por queixas e Incertezas. Candidatos que foram às praias cariocas e a feiras populares garimpar votos reclamaram da falta de clareza sobre os limites da propaganda eleitoral. A distribuição maciça de adesivos pelos candidatos mostrou a confusão gerada pelas novas regras.

¿ Estão deixando passar um camelo, mas estão coando um mosquito ¿ lamentou o deputado federal Chico Alencar (PSOL), candidato à reeleição, ao reclamar que as regras protegem o poder econômico.

Permitida ou não, a propaganda foi espalhada, por exemplo, na Feira dos Nordestinos de Duque de Caxias, ontem, pela militância do PMDB. Até o candidato a governador do partido, senador Sérgio Cabral, e seu vice, Luiz Fernando Pezão, colaram o disco com o número e o nome do senador.

nas praias, apesar do sol forte, que atraiu muitos banhistas, a preocupação com o cumprimento das regras e o baixo comparecimento de militantes partidários esvaziaram a corrida eleitoral. Os candidatos evitaram distribuição de brindes e apresentações musicais, proibidos pela Justiça Eleitoral, mas muitos militantes exibiam adesivos (¿praguinhas¿) nas roupas, também vedados pela legislação.

Dos candidatos a governador fluminense, Vladimir Palmeira, do PT, e Milton Temer, do PSOL, estiveram em Copacabana, mas a campanha de ambos só esquentou quando eles se cruzaram, na altura do Posto Quatro.

Dúvidas sobre a presença em festas

A deputada federal Jandira Feghali, candidata do PCdoB ao Senado na chapa de Vladimir, disse que a proibição de uso de outdoors, camisetas e bonés, além da promoção de showmícios, é clara, mas há dúvidas sobre outros recursos, como o comparecimento de candidatos a festas de aniversário ¿ ¿se você chega quando ela já está acontecendo¿ ¿ e a distribuição de peças de campanha. Uma das indagações dos candidatos é se a presença em festas com música ao vivo pode ser considerada participação em showmício.

¿ Há anos, o PCdoB dá balões para crianças na praia. Será que isso é considerado brinde? Balão de gás pode ser considerado um benefício. Na minha opinião, não se caracteriza ¿ queixou-se Jandira.

O candidato do PSDB a governador, Eduardo Paes, cuja equipe vem usando adesivos com seu nome nas camisas, diz esperar a interpretação do TRE sobre o caso. Na sexta-feira, um fiscal foi acionado para ver se o artifício era legal. O tribunal vai avaliar o caso.

¿ É um alternativa inteligente, mas que pelo visto não será permitida. Mas eu não vejo problema nisso. Acho bom que o TRE fique em cima dos candidatos. O que eles determinarem nós vamos seguir ¿ afirmou o tucano, que ontem esteve na feira de Campo Grande, na Zona Oeste.

Outro tipo de publicidade espalhado pelo candidato do PMDB, e interpretado como legal pelo partido, é o cartaz com a foto, número e nome de Sérgio Cabral, candidato a governador. Ontem, Cabral distribuía autógrafos nos pôsteres, que faz sucesso principalmente entre as mulheres.

Consulta sobre o uso de bandas de música

Mas o partido ainda está confuso sobre algumas regras. Segundo Pezão, uma das dúvidas da equipe de Cabral é em relação ao uso de bandas de música em eventos de rua. O advogado do PMDB, Eduardo Damian, disse que espera resultado de consulta feita ao TRE também sobre o que será exatamente considerado como showmício:

¿ Há dúvidas ainda sobre os candidatos cantores. Talvez possam se apresentar, desde que sozinhos no palco.

O candidato do PSOL, Milton Temer, disse que, excluindo os outdoors, não há outra proibição que favoreça o ¿jogo eleitoral¿:

¿ Proibiram recursos que são fundamentais à esquerda, como a venda de camisetas. Quem pode dar, em vez de vender, são os candidatos do poder econômico.

Nem o advogado do PMDB escapou das dúvidas. Damian, que fez consulta ao TRE sobre a utilização de bandas de música e sobre o que é exatamente interpretado como showmício, disse acreditar que as novidades só serão esclarecidas durante a campanha.