Título: Internet e eleições
Autor: Benito Paret
Fonte: O Globo, 10/07/2006, Opiniao, p. 7

Vivemos um momento muito especial na vida política da nação, com profunda descrença com a representação parlamentar. O aprofundamento do processo democrático exige, cada vez mais, transparência da parte de candidatos e partidos, e maior acesso dos cidadãos aos programas e idéias dos que se oferecem para representá-los.

e, nesse particular, as entidades da sociedade civil têm importante contribuição a dar no processo eleitoral que se aproxima, patrocinando, como entes politicamente neutros, ampla discussão sobre os problemas brasileiros, promovendo efetiva aproximação entre eleitores e candidatos.

A promoção de debates públicos fica restrita aos que pleiteiam os cargos majoritários, e a escolha dos proporcionais ¿ deputados estaduais e federais ¿ fica fora do alcance destas iniciativas. Poucas semanas após o pleito muitos eleitores já esqueceram até o nome dos ¿escolhidos¿. A mudança para o uso de critérios e compromissos claros é um obstáculo que precisa ser transposto, para regatar a credibilidade nas instituições democráticas.

Apesar de ter, ainda, consideráveis limitações a contornar, principalmente quanto ao acesso pelas camadas sociais de menor poder aquisitivo, a estaque1'>Internet vem se firmando, em todo mundo, como ferramenta capaz de estreitar a distância entre representantes e representados, com inegáveis vantagens. entre elas a interatividade, nos fóruns de discussão, que permitam ao eleitor sugerir, perguntar e cobrar posições de candidatos, conhecendo claramente as biografias e opiniões dos postulantes. É uma escolha consciente.

em todo o mundo desenvolvido multiplicam-se esses fóruns, pela rede, reunindo candidatos e eleitores em debates produtivos. Fora conhecidos exemplos de gestão participativa, em alguns países ¿ como a Inglaterra, os estados Unidos e a Suíça ¿ em maio último, o Congresso espanhol aprovou lei que autoriza a coleta de assinaturas pela estaque1'>Internet para promover mudanças legislativas por via eletrônica. São sinais dos novos tempos.

em janeiro já eram mais de cinco milhões de pessoas conectadas à rede, no Brasil, através de quase 900 mil domínios registrados. Mas a participação de partidos e candidatos ainda se limita, na maioria das vezes, à construção de páginas na rede. Ou ao envio de e-mails não solicitados que entopem as caixas postais dos cidadãos, produzindo efeito contrário.

Já é tempo de as entidades da sociedade civil se utilizarem dos recursos que a tecnologia oferece e dos responsáveis pelas campanhas políticas perceberem a importância crescente da estaque1'>Internet nas eleições. De entenderem que pode nascer um eleitor mais exigente e comprometido, que reivindica respostas efetivas e maior transparência dos escolhidos.

Já é hora de colocar a estaque1'>Internet a serviço da uma efetiva construção democrática, instrumento dos novos tempos que tanto reivindicamos.

BeNITO PAReT é presidente do Sindicato das empresas de Informática do Rio de Janeiro.