Título: Falta crédito
Autor: Rodrigo L. Medeiros
Fonte: O Globo, 10/07/2006, Opiniao, p. 7

O período eleitoral promete o retorno de uma série de temas aos palcos do grande debate nacional. Educação, saúde, previdência social e tantos outros assuntos permearão as discussões do segundo semestre.

No entanto, um fato que já merece a atenção diz respeito ao fraco desempenho econômico brasileiro. As estatísticas internacionais, entre elas a do Fundo Monetário Internacional, têm recorrentemente mostrado como o país não aproveita os bons ventos da conjuntura internacional.

Está cada vez mais difícil ocultar que a tênue associação produtiva entre empresas e mercado financeiro, expressa pela modesta relação crédito privado/PIB, pífios 28%, obstrui o desenvolvimento sustentado das organizações produtoras e reforça a concentração de renda no Brasil. Na Coréia do Sul, essa relação gira em torno de 90%; no Canadá, 73%; nos EUA, 46%; na França, 82%; e no Chile, 63%.

Economias mais desenvolvidas têm por característica apresentar sistemas financeiros de intermediação diversificados e ajustados às necessidades de suas estruturas produtivas. Pode-se claramente observar que a diversificação dos diversos sistemas financeiros trouxe alternativas nos prazos de operações, bem como maior eficiência no controle dos seus riscos. Isso ainda não ocorre sistemicamente no Brasil, apesar da atuação de expressivos bancos estrangeiros que parecem acomodados ao status de credores do Estado.

Com uma carga tributária girando em torno dos 38% do PIB, o Estado brasileiro mal consegue ofertar serviços básicos universalistas. Os únicos serviços públicos que avançam são os de caráter assistencialista, rendendo votos e incrementando os indicadores sociais dos institutos de estatísticas oficiais.

Instrumentos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e o Banco do Brasil, por exemplo, são importantes, porém insuficientes para dar conta das urgentes necessidades do país. Além disso, presume-se que uma economia capitalista se faça com risco assumido pelos agentes privados.

O desafio consiste em se buscar institucionalmente maneiras de democratizar o acesso ao crédito, a taxas compatíveis com as praticadas internacionalmente, desconcentrando o setor bancário e desenvolvendo o mercado de capitais brasileiro para que ele se torne um importante mecanismo coordenador de alocação de recursos produtivos.

RODRIGO L. MEDEIROS é professor da Fucape Business School.