Título: PROPOSTA DA VARIGLOG É REJEITADA
Autor: Erica Ribeiro e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 18/07/2006, Economia, p. 21

Empresas de `leasing¿ votam contra oferta de compra da Varig. Ex-subsidiária quer impugnação

Aproposta de compra da Varig feita pela ex-subsidiária VarigLog e a alteração no plano de recuperação judicial da companhia aérea foram rejeitadas ontem pelos credores, especificamente por causa do voto contrário de empresas de leasing ligadas à americana GE Capital. A rejeição, a princípio, inviabiliza o leilão de ativos da Varig ¿ marcado para amanhã ¿ e poderá abrir caminho para a Justiça decretar a falência da companhia aérea. No leilão, a parte chamada de nova Varig seria oferecida à VarigLog e a outros eventuais interessados. A Varig antiga ficaria com a dívida de quase R$8 bilhões e continuaria em recuperação judicial. A VarigLog vai tentar impugnar, na Justiça, os votos da GE Capital na assembléia de credores de ontem.

O preço mínimo do leilão seria de US$24 milhões à vista (se o comprador fosse a VarigLog, seriam os US$20 milhões que ela já vem depositando para a Varig de forma emergencial), mais US$75 milhões em 48 horas e um valor a prazo

Nessa assembléia, os credores precisavam aprovar o novo modelo de venda, a partir da proposta feita pela VarigLog, para que o leilão fosse feito. Os trabalhadores aceitaram a oferta, que também teve o apoio do fundo de pensão Aerus e das empresas estatais Infraero e BR Distribuidora. Mas a proposta foi rejeitada por empresas de leasing ¿ lideradas pela GE Capital ¿ que arrendam aeronaves para a Varig.

Os advogados da Varig enviaram ao juiz Luiz Roberto Ayuob, do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio e que conduz o processo de recuperação judicial da companhia aérea, o resultado da assembléia. A Justiça agora vai analisar o pedido de impugnação dos votos da GE, feitos tanto pela VarigLog quanto pela própria Varig. A VarigLog também vai recorrer à Justiça para evitar que o voto dos arrendadores impeça a realização do leilão.

¿ Se o resultado permanecer o mesmo após a análise do juiz, a GE será a responsável (pela falência da Varig). As empresas brasileiras votaram a favor (do negócio) ¿ disse o presidente da companhia aérea, Marcelo Bottini.

Ainda há alternativa de mudança no voto

O resultado da assembléia ainda pode mudar, se os advogados da VarigLog conseguirem na Justiça uma liminar reduzindo o poder de voto das empresas de leasing. Eles alegam ter provas de que vários grupos venderam seus créditos para uma empresa de factoring (que compra cheques, duplicatas e notas promissórias e passa a ser a credora) e, mesmo assim, votaram individualmente na assembléia.

Caso o recurso seja atendido, basta apenas uma recontagem de votos, o que garante a realização do leilão amanhã. Isso porque os maiores credores ¿ por exemplo os trabalhadores, o Aerus, a Infraero e a BR ¿ votaram a favor da oferta. O Banco do Brasil se absteve.

Pelas regras da assembléia, a votação é cumulativa, por valor do crédito e por presença individual dos credores. Apesar de serem detentoras de dívidas de valor mais baixo, as empresas de leasing são muitas e, por isso, conseguiram derrubar a oferta da VarigLog. A classe 1 de credores, a dos trabalhadores, teve 100% de votos a favor tanto nos créditos quanto na presença de credores. Já a classe 2, que tem o Aerus como principal detentor dos créditos, teve 94,2% do volume de créditos mas apenas 5,6% de presentes. Na classe 3, o volume de créditos foi de 81,2% e o de presentes, de 42,9%. Por isso, houve a distorção, já que a GE tem empresas divididas em diferentes classes de credores. Normalmente, as empresas de leasing optam pela abstenção.

Bottini disse ter informações de que a GE teria vendido seus créditos (a receber da Varig) para o banco JP Morgan. Outras fontes, no entanto, disseram que os créditos teriam sido vendidos às companhias aéreas TAM e Gol, que se beneficiariam da falência da Varig. Por causa disso, a GE teria que manter o voto contra a recuperação judicial. A suposta transferência dos créditos, segundo Bottini, não foi informada à Varig. A TAM negou que a empresa tenha comprado crédito de empresas de leasing. Disse ainda que é uma companhia de capital aberto e uma operação semelhante teria de ser informada ao mercado e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Fontes ligadas à Gol disseram que as informações são absurdas e não procedem.

Segundo integrantes do governo, a Infraero e a BR condicionaram o voto favorável à inclusão de uma cláusula que prevê a saída da Fundação Ruben Berta (FRB) da gestão da Varig antiga. A FRB já está afastada da gestão da Varig ¿ ou seja, das decisões estratégicas e do dia-a-dia da companhia ¿ desde o ano passado, por determinação da Justiça. Mas na semana passada, a FRB voltou a ser a controladora da Varig antiga, sem diluir sua participação para 5% como previa o plano anterior.

Ficou acertado ontem, no plano, que os credores vão indicar o conselho de administração e o diretor da empresa que sobrar da Varig por dois anos, até a quitação dos créditos. O prazo poderá ser prorrogado.