Título: Perdigão diz que preço é `extremamente baixo¿
Autor: Aguinaldo Novo e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 18/07/2006, Economia, p. 23

Sadia, no entanto, garante que não muda oferta nem prazo para realização do leilão. Prêmio é de 35% sobre ações

SÃO PAULO e RIO. Anunciada oficialmente ontem, a oferta pública da Sadia para arrematar o controle da Perdigão já enfrenta resistências. O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, disse que o preço de R$27,88 oferecido por ação é ¿extremamente baixo¿ e está aquém de estimativas feitas no mercado. A Sadia, que no passado tentou negociar a compra da concorrente, reafirmou que aquela é sua oferta final. Secches também questionou o prazo fixado pela empresa para concluir a operação (100 dias). A Sadia diz que, depois disso, a proposta perderá a validade.

Ao desqualificar o preço oferecido pela Sadia, Secches mencionou a avaliação da Bradesco Corretora, que em relatório fixa em R$31,50 o preço-alvo das ações da Perdigão para dezembro. Outros bancos citados por ele foram o Pactual (R$34,50) e o Santander (R$37 por ação).

¿ O que salta aos olhos nesse primeiro momento é a subavaliação de valores.

Segundo Secches, caberá agora aos acionistas avaliar a contratação de uma nova avaliação. O assunto está sendo tratado pela área jurídica da empresa e poderá entrar na pauta da reunião do Conselho de Administração marcada para daqui a 15 dias.

Secches disse que um novo laudo de avaliação é um instrumento para que a direção da companhia possa recomendar ou não aos acionistas a eventual venda de suas ações à Sadia.

¿ Estamos vivendo um processo preliminar, no qual nossa missão é dar elementos aos acionistas para decidir.

A Sadia diz ter seguido o estatuto da própria Perdigão, ao levar em conta o valor médio dos papéis da empresa negociados em bolsa nos últimos 30 dias, acrescidos de um prêmio de 35%.

¿ Usamos três critérios e este foi o que teve maior valor. A oferta é firme e garantida ¿ disse o diretor de Finanças da Sadia, Luiz Murat.

Ele completou que a Sadia não pagará um centavo a mais que o já oferecido.

¿ Caso um novo laudo (de avaliação do valor da empresa) chegue à conclusão de um valor superior, nossa oferta estará suspensa.

Integrante do chamado Novo Mercado da Bovespa desde abril, a Perdigão teve todo seu capital transformado em ações ordinárias e pulverizado entre os acionistas, o que abriu uma porta para uma oferta pública como a feita pela Sadia.

Secches ironizou a afirmação da Sadia de que operação seria uma ¿oferta voluntária¿ de compra das ações.

¿ No Brasil, como isso nunca aconteceu, você pode dar qualquer nome. Pode chamar de Amélia ou de orquídea. Mas no mundo, isso se chama de compra hostil.

Apresentada diretamente aos acionistas da companhia que se deseja comprar, a oferta hostil muitas vezes vai contra a intenção da diretoria da empresa e de seu conselho de administração, explicam especialistas. Ela é, assim, o oposto de uma oferta amigável, em que a proposta de aquisição é negociada com os gestores da corporação cobiçada.

Outra pedra no caminho da negociação é o prazo fixado unilateralmente pela Sadia. Patrocinadora da oferta pública, a empresa estipulou 24 de outubro como limite para o leilão. A negociação pode chegar a R$3,7 bilhões, se os acionistas aceitarem a venda de 100% das ações da empresa.

Ainda no domingo à noite, o presidente do Conselho de administração da Sadia, Walter Fontana Filho, se reuniu com Secches para dizer que a união das duas empresas seria essencial para enfrentar a concorrência das grandes multinacionais. Ontem, Fontana reafirmou que Sadia e Perdigão ¿deixariam de ser caça, para ser caçadoras¿.

O discurso não parece ter animado Secches, que ressaltou que a companhia mantém seu plano estratégico, que envolve inclusive a análise de aquisições no Brasil e no exterior.

¿ Essa internacionalização já está sendo perseguida por nós ¿ afirmou o executivo, acrescentando que a companhia prevê investir R$470 milhões este ano.

Consultor não vê ameaça para o bolso do consumidor

O professor da USP Nelson Barrizelli acredita que o consumidor não sairá perdendo com a união de Sadia e Perdigão, apesar de as empresas dominarem os segmentos em que atuam. Segundo ele, as empresas enfrentam concorrência, principalmente nos mercados regionais e locais:

¿ O consumidor não será prejudicado. Existem, por exemplo, 500 mil pontos de vendas de frios e carnes em todo o país e as duas empresas, juntas, estão presentes em apenas cem mil deles.

COLABOROU Mirelle de França