Título: A morte foi um erro trágico¿
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 18/07/2006, O Mundo, p. 31

Segunda maior autoridade policial do Reino Unido, o vice-comissário da Scotland Yard, Paul Stephenson, admite que a morte de Jean Charles de Menezes foi um duro golpe na reputação da força e uma trapalhada que vai obrigar muitas mudanças em procedimentos. Porém, em entrevista ao GLOBO, Stephenson alterna os pedidos de desculpas à família do brasileiro com a convicção de que a tragédia de Stockwell foi um acidente de percurso mais do que uma falha generalizada no combate ao terrorismo.

Por que a Scotland Yard não gostou de uma decisão do Ministério Público que foi mais amena do que se previa?

PAUL STEPHENSON: Ficamos preocupados e desapontados porque o enquadramento na Lei de Saúde e Segurança de 1974 vai criar um clima de incerteza sobre como uma força policial poderá agir contra o terrorismo suicida numa sociedade democrática. Temos a responsabilidade de proteger o público de pessoas dispostas a cometer assassinatos em massa como os de 7 de julho de 2005. Ao menos houve o (lado) positivo de que ninguém será responsabilizado individualmente.

Mas não é compreensível que haja uma certa preocupação com a conduta da polícia depois da morte de um inocente como Jean Charles de Menezes?

STEPHENSON: A morte de Jean Charles foi um erro trágico e nós só podemos lamentar a tristeza pela qual sua família está passando. Mas é preciso levar em conta todo o cenário em que tudo ocorreu. Havíamos sido atingidos por um terrível atentado e outros criminosos pensavam em repetir tais atos ¿ tanto que houve outros planos desbaratados. Nosso trabalho é minimizar os riscos para o bem-estar de todos.

Só que a percepção é de um catálogo de erros...

STEPHENSON: Não usamos o 7 de Julho como desculpa. A Scotland Yard tem de ser responsabilizada pelo que aconteceu em Stockwell. Só não concordo quando se fala numa falha de todo um sistema. Cometemos erros que vão servir de lição para o futuro. Nossos métodos de treinamento para situações de confronto com possíveis terroristas suicidas, por exemplo, estão sendo reformados. A morte de Jean Charles choca, mas não pode simplesmente apagar o que estamos fazendo em prol da segurança pública.

A Scotland Yard estaria disposta a fazer algum pagamento espontâneo de uma indenização para a família?

STEPHENSON: Só pensaremos no assunto se recebermos qualquer pedido por parte da família. Até porque, pouco após o ocorrido em Stockwell, a Scotland Yard ofereceu aos pais de Jean Charles uma quantia (cerca de US$25 mil) que considerava adequada para um primeiro momento. Acabou dando margem para insinuações de que estávamos tentando silenciar a família. (Fernando Duarte)