Título: NO TOPO DA LISTA, OS PARTIDOS DO MENSALÃO
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 19/07/2006, O País, p. 8

Dos 57 deputados suspeitos de ligação com os sanguessugas, 36 são de PP, PTB e PL, acusados do valerioduto

BRASÍLIA. Os partidos dos parlamentares acusados pela CPI dos Correios e pela Procuradoria Geral da República de ligação com o escândalo do mensalão estão no topo da lista de legendas suspeitas de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Nada menos que dois terços da lista de 57 parlamentares são dos partidos do mensalão.

O PTB do ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o esquema do mensalão, tem 13 deputados na lista de investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela CPI dos Sanguessugas. O mesmo número de parlamentares na lista tem o PP do ex-deputado Pedro Corrêa. Já o PL, comandado pelo ex-deputado Valdemar da Costa Neto, tem dez parlamentares na lista dos 57 investigados.

Jefferson e Corrêa foram cassados. Já Valdemar renunciou para evitar o processo de cassação. Juntos, PTB, PP e PL têm 65% dos parlamentares investigados pelo Supremo e pela CPI. Os outros 21 envolvidos estão distribuídos por sete legendas, que estiveram tanto ao lado do governo quanto da oposição.

Integrante da CPI dos Sanguessugas, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) vê uma relação na participação dos três partidos nos dois escândalos:

¿ Só podem participar deste tipo de desvio de dinheiro os deputados que conseguem liberar suas emendas. O caminho quase único é votar com o governo. É o mesmo processo fisiológico que une as duas coisas e são característicos destes partidos.

Cinco do PMDB estão na lista

O PMDB tem cinco parlamentares na lista dos suspeitos. PSB e PFL, com quatro cada um, são seguidos por PSDB (três), PSC (dois), PRB (dois) e PPS (um).

Considerando a configuração de grande parte do governo Lula, pelo menos 45 dos 57 parlamentares suspeitos podem ser considerados governistas. Mas boa parte das emendas orçamentárias que resultaram em compras superfaturadas de ambulâncias e outros equipamentos, como ônibus escolares, foram liberadas entre 2001 e 2002, durante o governo Fernando Henrique.

O presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), informou que não pretende ampliar num primeiro momento as investigações da comissão para o Poder Executivo. Ele afirmou que está descartada a convocação de ministros, que poderiam ser ouvidos para explicar a liberação das emendas. A quadrilha que contava com o apoio de parlamentares desviou recursos de quatro ministérios (Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia e Comunicações).

¿ Se fôssemos partir para investigar ex-ministros e governadores iríamos tumultuar tudo. Uma coisa de cada vez ¿ justificou Biscaia.

Até agora, os parlamentares envolvidos com o escândalo dos sanguessugas integram, em sua maioria, o chamado baixo clero. São políticos que em geral não participam dos debates políticos nacionais e estão mais preocupados com suas bases eleitorais. Muitos integram a bancada evangélica, outros vivem à sombra de líderes regionais.

Mas a lista apresenta também alguns nomes com maior peso político, como o do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB); o deputado Mário Negromonte, líder do PP na Câmara; e o deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), um dos integrantes da executiva nacional tucana.