Título: POR TERRA, MAR E AR, UM ÊXODO ESTRANGEIRO
Autor: Sonia Ines, Letícia Lins, Tatiana Farah e Natanael
Fonte: O Globo, 19/07/2006, O Mundo, p. 31

Países aceleram retirada e navios se transformam em principal meio de fuga em massa

BEIRUTE. A fuga de estrangeiros do Líbano ganhou contornos ainda mais dramáticos, com o sul do país e a capital, Beirute, ficando praticamente desertos. Países se unem para retirar seus cidadãos, enquanto milhares de pessoas fogem em carros, ônibus, helicópteros ou embarcações, enfrentando estradas destruídas e temendo ser alvo de bombardeios israelenses. Há o temor de que a operação de evacuação não seja rápida o bastante, à medida que a guerra se intensifica.

Após muitas estradas, pontes e o próprio aeroporto de Beirute terem sido bombardeados, o mar se transformou numa das principais rotas da fuga em massa.

Um navio de guerra britânico chegou ontem a Beirute para retirar cidadãos do país, no que Londres classificou como sua maior operação de evacuação desde a Segunda Guerra Mundial. Uma fragata já levava ontem 180 britânicos, enquanto mais dois navios de guerra se aproximavam da região. Até o fim da semana deverão ser retiradas cerca de cinco mil das mais de 20 mil pessoas com passaporte britânico no Líbano.

¿ Estamos fazendo todo o possível ¿ disse o premier Tony Blair.

Mas os governos de EUA, Reino Unido e Alemanha enfrentaram fortes críticas de que vêm agindo lentamente para retirar cidadãos da zona de guerra. Muitos americanos ficaram revoltados ao saberem que uma lei prevê o pagamento dos custos de retirada.

Venezuela e Colômbia coordenam operação com a Espanha

Os 368 americanos que deixaram o Líbano partiram de helicóptero e num navio alugado pela França. A retirada de americanos deve se intensificar hoje com a partida de um navio alugado, com capacidade para 750 pessoas. Além disso, o governo anunciou o envio de cinco navios de guerra para transportar americanos.

¿ Sabíamos que as coisas iam ficar ruins, mas ninguém esperava que ficassem tão ruins ¿ disse um americano ao chegar a Chipre.

A presença dos navios de guerra americanos pode enviar uma mensagem ao Hezbollah para não interferir na retirada, acredita Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.

Enquanto isso, a Venezuela buscava assegurar com Israel que uma caravana de ônibus que parte hoje rumo à Síria não seja atacada. A retirada de venezuelanos começou no fim de semana por via aérea e continua hoje por terra, enquanto o país coordena, junto com a Colômbia, uma operação com a Espanha visando à retirada de milhares de latino-americanos. Já o Panamá, que não tem representação diplomática no Líbano, pedia ajuda para retirar seus cidadãos.

A França, que já retirou cerca de 800 de seus seis mil cidadãos no Líbano, também buscava garantir a segurança para a sua operação.

¿ Estamos em contato com autoridades israelenses para esta embarcação poder ir e voltar ¿ contou o chanceler Philippe Douste-Blazy.

À fuga de estrangeiros, soma-se a dos libaneses. Segundo a ONU, que alerta para uma crise humanitária, mais de um milhão de pessoas podem ter abandonado suas casas, deixando partes do país praticamente vazias. Milhares tentam deixar o país.