Título: SANGUE BRASILEIRO NO LÍBANO
Autor: Sonia Ines, Letícia Lins, Tatiana Farah e Natanael
Fonte: O Globo, 19/07/2006, O Mundo, p. 31

Menino do Paraná e comerciante de São Paulo são mortos em bombardeio de Israel

Natanael Damasceno

Mais dois brasileiros morreram na guerra entre Israel e o Hezbollah. O paranaense Basel Imad Termos, de 7 anos, foi morto quando um míssil israelense atingiu a casa onde estava, no sul do Líbano. Outro brasileiro, o comerciante Rodrigo Aiman, de 34, morreu no domingo, mas a família só foi informada ontem. Ao todo, seis brasileiros já morreram na guerra. A dor de suas famílias contrastava com a alegria da chegada dos primeiros brasileiros a deixar a zona de guerra.

Basel foi morto ontem em Taloussa, a 120 quilômetros de Beirute. A mãe, Manal, e o irmão Samih, de 4 anos, estão gravemente feridos. Os três estavam com mais 12 parentes tomando café da manhã quando três mísseis israelenses atingiram a casa. Também morreram o tio de Basel, Ali, 17, e a tia Bahige, 70, ambos libaneses. Sem socorro, o avô Nabih teve de optar por quem tentaria salvar primeiro.

¿ O avô ficou procurando entre os escombros os corpos de netos e parentes. Pegou os mais feridos, pôs no carro e levou para o hospital ¿ contou o primo, Mohamed Termos, em Foz do Iguaçu.

Escola perde seu terceiro aluno

O bombardeio aconteceu às 5h no Líbano (10h no Brasil). O pai de Basel, o comerciante Imad Termos, estava em Foz desde 1996. A família havia embarcado para o Líbano há 15 dias e deveria retornar para o início das aulas na quinta-feira. Com morte do terceiro estudante da Escola Líbano-Brasileira, o início das aulas foi suspenso. E apesar de os parentes terem sido levados para o hospital, a garantia de sobrevivência é mínima: faltam acomodações, médicos e remédios.

As pessoas pareciam não acreditar na quinta morte de moradores da cidade desde que a guerra começou, no dia 12. O casal Akil Merhi, de 34, Ahlam Jaber, 28, e dos dois filhos Hadi, 8, e Fatma, 4, foram mortos em Srifa. Hoje, moradores de Foz do Iguaçu devem fazer um protesto às 16h.

O Itamaraty ainda não havia reconhecido a morte de Rodrigo Aiman. Ele visitava o país todos os anos e estava passeando em Beirute durante um bombardeio no domingo. Os parentes só conseguiram se comunicar ontem com a família em Itapetininga, em São Paulo. Rodrigo será enterrado hoje em Beirute. Ele era casado, tinha dois filhos e era dono de lojas de tecidos em Capão Bonito, Itapetininga e no bairro do Brás, em São Paulo.

Após mais de 30 horas de viagem tensa ¿ entre percursos de ônibus em território libanês, sírio e turco e 11 horas de vôo ¿ chegou ontem no Aeroporto dos Guararapes, em Recife, o primeiro grupo de 98 pessoas resgatadas pelo Itamaraty de Beirute. Vieram 85 brasileiros, oito libaneses e cinco argentinos. Outros 24 brasileiros decidiram ficar em Adana, na Turquia.

Ninguém ficou em Recife, onde o Boeing 707 da Força Aérea Brasileira, o Sucatão, fez escala. Ele seguiu para São Paulo e terminou a viagem no Rio. Emocionados, os brasileiros contaram que o comboio foi formado por três ônibus, escoltado por três carros do corpo diplomático. E viajou com grandes bandeiras brasileiras.

¿ Quando ouvi as primeiras explosões, fiquei desesperado ¿ contou o comerciante Zouhaer Haida.

Em Guarulhos, lágrimas de alívio, palmas e abraços. A brasileira Carina Dutra contava:

¿ Minha filha de 3 anos olhava para o avião e dizia: ¿Mamãe, avião, bum¿ e tapava os ouvidos ¿ disse.

A libanesa Najla contava:

¿ O pior de tudo é ver criança morta na rua. A gente via da varanda. Era gente morta e ponte destruída por todos os lados.

Pouco após as 19h50m, o avião pousou na Base Aérea do Galeão, onde oito pessoas desembarcaram. Entre eles Fátima Mourão, mulher do cônsul-adjunto do Brasil no Líbano, Fernando Vidal. Aliviada por chegar ao Brasil, contou que o marido ficou no Líbano. O governo brasileiro está preparando uma nova operação para retirar brasileiros do país.

*Especial para O GLOBO, ** da CBN

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