Título: RUÍNAS SEPULTAM BRILHO DE CAPITAL MODERNA
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Fonte: O Globo, 19/07/2006, O Mundo, p. 33

Bombardeios puseram por água abaixo esforço bem-sucedido de reconstrução de Beirute

BEIRUTE. Para os românticos, a capital libanesa sempre foi objeto de desejo: uma sociedade cosmopolita, em pleno Oriente Médio, que fervilha e que convive com as diferenças étnicas e religiosas. Este moderno cenário urbano quase morreu duas décadas atrás, por conta de 16 anos de guerra civil e por causa das crises externas. Agora, o sentimento de pavor está de volta a Beirute.

Em meio a cruéis ataques aéreos israelenses com o objetivo de punir o Hezbollah, famílias procuraram refúgio em escolas, fogem dos bairros mais visados e tentam sobreviver como podem, sem ter certeza do que os espera.

¿ Não há água, comida nem remédios. Estamos em situação precária, sob intenso bombardeio ¿ disse Fatma Bitar, uma americana de origem libanesa de 52 anos, que foi para Beirute há duas semanas com uma filha e uma neta.

Aterrorizados, muitos moradores, inclusive crianças, fazem questão de demonstrar sua raiva em relação a Israel.

¿ Eu quero enviar uma mensagem para Israel. Se eles querem nos matar, vão precisar de muito mais foguetes ¿ disse o estudante Fadel Suleiman, de 10 anos.

As bombas israelenses estão desfazendo todo o trabalho recente que fez a cidade renascer e tornou algumas áreas grandes pontos turísticos. Os ataques ao centro destruíram boa parte dessa estrutura, comprometendo prédios importantes, entre eles igrejas cristãs.

Reservas de combustível também foram bombardeadas

Alguns dos locais mais importantes da infra-estrutura urbana de Beirute estão em ruínas. A Força Aérea israelense bombardeou avenidas, vias de acesso ao Aeroporto Internacional e deixou vários serviços da cidade inoperantes. Pontes, rodovias e preciosas reservas de combustível que abastecem a capital também foram destruídos. Israel alega que essa infra-estrutura era usada para o suprimento de armas para o Hezbollah.

Por todo o Líbano, pelo menos 235 pessoas morreram nos bombardeios e 400 ficaram feridas. A capital, de 1,3 milhão de habitantes, que tem em seu perímetro 17 seitas muçulmanas e diversas denominações cristãs, está à beira do caos, com dezenas de milhares de libaneses fugindo dos bairros do sul para escapar dos bombardeios de Israel.

Em outras regiões, os cristãos tentam a todo custo se afastar das regiões muçulmanas, muitas das quais repletas de prédios do Hezbollah.

Estrangeiros também tentam desesperadamente escapar da guerra. Por terra até a Síria ou pelo Mediterrâneo até Chipre. Helicópteros dos Estados Unidos cortam os céus levando cidadãos americanos para fora do país.

Muitas partes da cidade, apesar do bombardeio, ainda estão intocadas, mas não se sabe até quando. O turismo, do qual depende a economia da capital, evaporou como chuva de verão no asfalto.

Cancelamento de reservas ameaça turismo e comércio

Os ricos de diversas partes do Oriente Médio ¿ que há anos freqüentavam a noite de Beirute, os restaurantes e as lojas ¿ cancelaram reservas em hotéis e já comprometem locadoras de automóveis, agências de turismo e outros estabelecimentos, que ameaçam fechar por falta de movimento.