Título: ENVOLVIMENTO DE PARLAMENTARES LEVA GOVERNO E OPOSIÇÃO A TROCAR ACUSAÇÕES
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 20/07/2006, O País, p. 11

Alckmin cobra punição do Executivo; ministro diz que raciocínio é simplista

BRASÍLIA. O governo federal e a oposição trocaram acusações ontem sobre a responsabilidade pelo escândalo dos sanguessugas. O envolvimento de sete parlamentares do PSDB e do PFL, no total, não reduziu o tom das críticas do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, ao governo Lula. Alckmin disse ontem que pelo menos 50 dos 57 parlamentares da lista de envolvidos são da base governista e cobrou a punição do Executivo, que, para ele, seria o caixa do esquema de corrupção.

Já o controlador-geral da União, ministro Jorge Hage, rebateu as acusações de que a maioria dos parlamentares sob suspeita de envolvimento com a quadrilha pertence à base aliada. Para ele, a responsabilidade não pode ser atribuída ao governo. Segundo o ministro, o esquema de vendas superfaturadas de ambulâncias a partir de emendas parlamentares acontece desde 1998, quando a Planam passou a atuar no ramo.

¿Governo não tem controle sobre o dinheiro¿

Alckmin, entretanto, disse achar necessário investigar o governo Lula:

¿ A leitura é a seguinte: 50 são da base do governo. Agora, investigação e punição é para todo mundo. Quero lembrar que não é só deputado. O dinheiro sai do Executivo. Então, é preciso punir o Legislativo e o Executivo, que é o caixa. Isso mostra que a corrupção não acabou, continua e o governo não tem controle sobre o dinheiro público.

Hage discordou:

¿ Não podemos somar esses parlamentares e chamar de base aliada do governo Lula. É um raciocínio simplista. Até 2002, PP, PTB e PL foram aliados do governo Fernando Henrique. Os fatos ocorreram ao longo de quase uma década ¿ disse o ministro.

O prefeito Cesar Maia (PFL), que participou ontem pela primeira vez de uma reunião do conselho político da campanha tucana, também defendeu a investigação no governo.

¿ Não se monta um esquema deste sem a participação do Executivo ¿ disse ele.

A Planam, segundo o ministro Hage, foi constituída em 1993, mas atuava apenas dando consultoria a municípios. A partir de 1998, com a abertura de empresas de fachada para simular falsas concorrências, passou a fraudar licitações em todo o país, como mostram inspeções especiais da CGU.

¿ Todos os esquemas descobertos recentemente são antigos, existiam há muito tempo. Até agora não há um sequer que tenha sido criado a partir de 2003. O que há de novo é a sua descoberta ¿ afirmou Hage.

Investigações além do Ministério da Saúde

Alckmin, por outro lado, defende que as investigações da CPI não fiquem restritas apenas ao Ministério da Saúde. Ele disse estar convencido que a falta de controle e avaliação sobre os custos em relação às emendas de parlamentares e aos repasses de recursos também atinge outras pastas. Na sua opinião, é um absurdo que o governo não tenha estabelecido um pregão eletrônico para a compra de ambulâncias.

¿ Em São Paulo, economizamos R$4 bilhões em três anos e meio com compras eletrônicas. Para mim, não há governo ético se ele não é eficiente. A ética tem um novo nome que é o da eficiência. É preciso fazer mais e melhor com o mesmo dinheiro da população ¿ disse Alckmin, defendendo a punição exemplar dos tucanos comprovadamente envolvidos.