Título: MANTEGA COMEMORA RESERVAS DO PAÍS SUPERIORES À DÍVIDA EXTERNA PÚBLICA
Autor: Martha Beck e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 20/07/2006, Economia, p. 26

Analistas ressaltam que fato não acaba com vulnerabilidade do país

BRASÍLIA. Seguindo a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar publicidade a números positivos da economia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou ontem que as reservas internacionais do país estão maiores que a dívida externa da União. Isso significa que o governo tem sobra de recursos em caixa para quitar esses débitos. Enquanto as reservas estão em US$64 bilhões, a dívida externa da União está em US$63,2 bilhões.

¿ O Brasil saiu do cheque especial e já tem crédito ¿ disse Mantega.

O ministro, que vem fazendo uma série de comparações entre dados dos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, chegou a dizer que a situação é inédita na história recente, embora o mesmo já tenho ocorrido em 1998. Na tentativa de mostrar avanços em relação ao governo passado, a equipe da Fazenda divulgou, no fim de junho, um trabalho sobre investimentos públicos que vem sendo questionado por apresentar dados inflados.

Segundo Mantega, o fato de as reservas estarem acima da dívida externa permite que o crescimento da economia não seja prejudicado por turbulências no mercado internacional.

¿ As condições que alcançamos hoje nos dão tranqüilidade para passarmos ao largo de algumas tormentas.

Fluxo cambial volta a melhorar em julho

O economista do JP Morgan Fábio Akira afirmou que a nova situação ajuda a reforçar a confiança dos investidores na economia brasileira, mas é apenas mais um passo.

¿ O Brasil não está tão menos vulnerável hoje do que ontem ¿ disse Akira.

Para o economista da consultoria Tendências Guilherme Maia, o destaque dado pelo governo às reservas é oportunista:

¿ O número é positivo, mas não significa que o Brasil vai chegar ao grau de investimento amanhã.

O ministro explicou que o custo de manutenção das reservas elevadas compensa para o governo porque diminui o risco-país, o que torna a economia mais sólida e permite que o Tesouro Nacional pague menos para remunerar os títulos públicos.

Nos dez primeiros dias úteis de junho, o fluxo cambial, que representa o saldo entre a entrada e a saída de moeda estrangeira do país, voltou a ficar positivo. Segundo o Banco Central, no período o superávit somou US$1,942 bilhão. No ano, o fluxo acumula saldo positivo de US$25,072 bilhões, quase três vezes o volume apurado entre janeiro e julho de 2005, quando ficou em US$8,988 bilhões.

A saída de recursos pela conta financeira, que acabou prejudicando os resultados do mês passado, deu uma trégua em julho. O déficit financeiro nos dez primeiros dias deste mês ficou em US$1,366 bilhão, contra US$6,251 bilhões do mês passado todo. O saldo da balança comercial está positivo em US$3,308 bilhões, quase a mesma quantia de junho todo (US$3,575 bilhões).