Título: BC corta os juros e Selic é a menor da História
Autor: Patricia Duarte, Ronaldo D'Ercole e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 20/07/2006, Economia, p. 27

Taxa recua para 14,75% ao ano depois da redução de 0,5 ponto percentual, em decisão unânime do Copom

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. O Comitê de Política Monetária (Copom), em decisão unânime, cortou ontem em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros que, a partir de hoje, passará a 14,75% ao ano. Este é o menor patamar histórico da Selic, criada em 1986, mas ainda é considerado bastante elevado pelos especialistas, já que a taxa continua uma das mais altas do mundo. O movimento de baixa do BC, o nono consecutivo, era esperado pelo mercado, que aposta em mais cortes, apesar de menos intensos, daqui para a frente.

¿ O cenário de inflação está bem favorável ¿ afirmou o economista-chefe da Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias, para quem a Selic fechará o ano em 14,25%.

Só em junho, o IPCA registrou deflação de 0,21%, sobretudo devido aos preços de alimentos e combustíveis. O mercado espera que o índice fique em 3,77% este ano, abaixo da meta de inflação de 4,5%. O comportamento dos preços permitiu que o BC passasse a reduzir a Selic em setembro. Até agora, os cortes já estão em cinco pontos percentuais.

Economistas apostam em novas reduções

O menor nível anterior da Selic, de 15,25% ao ano, foi atingido no início de 2001 e repetido no mês passado. O BC, ao anunciar a decisão, usou a mesma curta nota das últimas duas reuniões, afirmando que continuará acompanhando ¿a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária¿.

Para o economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, o importante será ver a ata do Copom, no dia 27, para ter mais clara a avaliação do BC. Mas, para ele, o curto comunicado indica mais cortes. Além da inflação sob controle, os economistas destacam o fato de o crescimento dar sinais de fortalecimento sem pressões na demanda. O BC calcula que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) crescerá 4% este ano, acima da previsão do mercado (3,60%).

Mathias, do Unibanco, acredita que na próxima reunião do Copom, em 29 e 30 de agosto, haverá corte de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose na seguinte ¿ 17 e 18 de outubro.

Em reunião com prefeitos, o presidente Lula disse que, no início, era incompreendido pela opção de política macroeconômica do governo.

¿ O superávit primário, as taxas de juros. Foi graças a esta opção política que se tornou possível a redução dos juros ¿ afirmou.

As entidades empresariais e centrais sindicais reagiram à redução na Selic cobrando continuidade dos cortes e mais ousadia do BC. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Copom frustrou a indústria. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) diz que os cortes não vêm acompanhando o ritmo de acomodação dos preços.

¿ Há espaço para queda mais acentuada da Selic, só o BC não vê ¿ disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Para a Firjan, é fundamental que o corte de juros seja complementado pelo controle de despesas do governo, ¿sob pena do aumento contratado de gastos reverter-se em elevação futura da carga tributária ou menor superávit primário¿.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, classificou a redução como ¿pequena demais¿ e o presidente da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, comparou o corte com uma ¿dose insuficiente¿.

Dois grandes bancos anunciaram ontem pequena redução de juros para o consumidor, pegando carona na decisão do Copom. O Banco do Brasil, a partir do dia 24, terá juros menores no cheque especial, cartão de crédito, crédito direto ao consumidor e capital de giro às empresas. No cheque especial, os juros mínimos caem de 2,25% para 2,21% ao mês, e os máximos, de 7,85% para 7,81%. O Bradesco também cortou as taxas, a partir de hoje. No crédito pessoal, está entre 3,08% e 5,63%, contra 3,12% a 5,67% antes.