Título: PARAGUAI E URUGUAI: INSATISFAÇÃO COM MERCOSUL
Autor: Janaina Figueiredo e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 20/07/2006, Economia, p. 29

Lula traça estratégia para conquistar governos dos dois países, que incluiria oferta de empréstimos do BNDES

CÓRDOBA, Argentina. Os governos de Paraguai e Uruguai aproveitarão a cúpula de presidentes do Mercosul, que começa hoje, para protestar e mostrar sua profunda insatisfação com o bloco. A ministra das Relações Exteriores do Paraguai, Leila Rachid, fará um duro discurso no encontro de chanceleres, que antecede a reunião de chefes de Estado. O vice-chanceler paraguaio, Rubén Ramirez, disse ao GLOBO que seu país está cansado de discursos que terminam em nada:

¿ Durante a presidência pro tempore do Brasil (no segundo semestre deste ano), é preciso redefinir a agenda do Mercosul. Quantos relançamentos do bloco já foram anunciados? O que pedimos é sinceridade.

Segundo Ramirez, ¿se não podemos cumprir os principais artigos do Tratado de Assunção (de 1991), então voltemos a ser apenas uma zona de livre comércio¿. Isso significa que cada país teria liberdade para firmar acordos comerciais em separado, o que não é possível hoje. O Uruguai já mostrou ter essa vontade em diversas ocasiões. Seu alvo são os EUA.

Para negociador, é preciso reduzir desigualdades

O já esperado clima de descontentamento levou o presidente Luiz Inácio da Silva a determinar que integrantes de seu governo estudem formas de estimular o ingresso de empresas brasileiras nos dois países, cujos empreendimentos seriam financiados pelo BNDES. Estuda-se, inclusive, a alteração de algumas regras internas para que o banco empreste dinheiro diretamente a firmas paraguaias e uruguaias. Outra vertente é a ampliação do fundo de convergência macroeconômica, que será usado para corrigir as assimetrias na região, o que seria possível com a entrada da Venezuela no bloco.

¿ A lição é que o Mercosul não pode ser só comércio. Precisamos aumentar os investimentos, para corrigir as desigualdades ¿ disse um importante negociador brasileiro.

Segundo essa fonte, dado seu grande potencial energético, o Paraguai poderia receber empresas do setor de energia. Para o Uruguai iriam firmas brasileiras dos segmentos de carnes, couro e calçados e produtos agrícolas em geral.

Chávez deve anunciar recursos para fundo

A ajuda aos países menores deve ter forte apoio da Venezuela. É o que esperavam ontem alguns negociadores do bloco, tendo em vista o uso deliberado dos petrodólares do presidente Hugo Chávez. Ele deve anunciar até amanhã mais dinheiro para o fundo de convergência do Mercosul, mas ninguém sabia dizer qual seria o montante.

Uruguaios e paraguaios já avisaram, no entanto, que não aceitam esmolas: querem mais acesso aos mercados do bloco.

¿ Se não conseguirmos vender nossos produtos no Brasil ou na Argentina, nossa única opção é buscar novos mercados ¿ afirmou uma fonte do governo uruguaio.

No primeiro semestre deste ano, as exportações paraguaias para o Brasil despencaram 55% sobre o mesmo período de 2005. Já as vendas brasileiras para o Paraguai subiram 60%. No caso do Uruguai, as exportações para o Brasil equivalem, hoje, à metade do que eram há oito anos.