Título: EM FOZ DO IGUAÇU, LEMBRANÇAS DO MEDO E ALÍVIO
Autor: Carol Knoploch, Leonardo Valente e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 20/07/2006, O Mundo, p. 32

Brasileira conta a dificuldade enfrentada para deixar o Líbano

FOZ DO IGUAÇU. ¿Consegui embarcar porque eu chorava e os meus dois filhos choravam.¿ ¿O cheiro da morte está em todos os lugares.¿ As frases das brasileiras Cleoni Bueno e Andrelise Marins, respectivamente, revelam apenas o começo de uma história de medo e terror vivida no Líbano. Moradoras de Foz do Iguaçu, elas estavam entre os brasileiros trazidos por um jato da Força Aérea Brasileira (FAB), vindo da Turquia e que chegou anteontem ao Brasil.

Para fugir da guerra, as duas mulheres e seus três filhos enfrentaram 19 horas de ônibus do interior do Líbano até o ponto de resgate. A viagem em dias de paz duraria oito horas.

¿ Cheguei à embaixada, em Beirute, e não queriam me deixar embarcar porque eu não estava na lista ¿ disse Cleoni, ontem, em seu apartamento. ¿ Eu estava apenas com a roupa do corpo e os meus dois filhos, de 2 e 10 anos, também. Quando os três ônibus com brasileiros começaram a sair eu chorava, meus filhos choravam e eles não queriam deixar a gente entrar.

Ela disse que seu drama era ignorado pelos funcionários e que acabou sendo ¿salva¿ pela interferência do cônsul da Jordânia. A permissão para embarcar aconteceu somente no último momento, mas conta que ainda foi insultada.

¿ Eu viria sentada no chão com os meus filhos no colo.

Por alguns dias, Cleoni foi vizinha da base de Israel em Khiam, no sul do Líbano.

¿ Estávamos na fronteira. Víamos quando os canhões eram disparados. O barulho é como de um raio que cai próximo.

Comboio com ônibus de outros países

Ao abraçar o marido, o libanês Hichan Fahs, e entregar o filho Ali Hichan, 4, Andrelise Marins disse ter respirado aliviada. O pesadelo para ela começou no dia 13, quando um bombardeio destruiu o aeroporto de Beirute ¿ a um quilômetro da casa dos sogros.

¿ As bombas caíam e a gente via a bola de fogo subindo.

Desde então até a madrugada de ontem quando desembarcou em Foz do Iguaçu, foram cinco dias de medo. Da capital, a família foi para Kabrika, a cem quilômetros do aeroporto.

¿ No último dia fiquei num abrigo. Creio ter tido sorte de estar viva. Era um comboio de mais de 20 ônibus incluindo moradores de Portugal e dos Estados Unidos. Cada nacionalidade era identificada pela bandeira . O grupo foi escoltado pelo Exército do Líbano.

O apelo dos sobreviventes é pelo cessar-fogo e mais atenção do Brasil quem está no Líbano.

¿ Quem é de outro país pode tentar sair. Mas quem não tem para onde ir, como a família do meu marido, faz o quê? ¿ perguntou a brasileira Raquel Oliveira Deniz.