Título: Presidenciáveis não transferem votos no Rio
Autor: Cláudia Lamego
Fonte: O Globo, 21/07/2006, O País, p. 10
Datafolha mostra que maioria dos eleitores de Lula, Alckmin e Heloísa Helena votaria em Sérgio Cabral (PMDB)
O apoio dos candidatos à Presidência da República nem sempre rende votos para quem está na corrida eleitoral nos estados. Levantamento do Datafolha feito nos dias 17 e 18 de julho mostra que 52% dos eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB) votariam no peemedebista Sérgio Cabral Filho no Rio. Eduardo Paes, candidato tucano, é citado por apenas 5% desses eleitores. Já Denise Frossard (PPS), apoiada pelo PFL, aliado do PSDB no plano nacional, teria 12% dos votos do tucano.
A pesquisa mostra ainda que Marcelo Crivella (PRB), do partido do candidato a vice-presidente da República, José Alencar, na chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teria apenas 26% das intenções de votos de quem declara ser eleitor do petista. Já o candidato do PT no estado, Vladimir Palmeira, teria apenas, segundo o Datafolha, 2% dos votos de eleitores de Lula. No Rio, o presidente conta com os votos de Crivella e, por isso, o PT já anunciou que terá dois palanques no estado.
Os eleitores de Heloísa Helena, em sua maioria, também preferem Sérgio Cabral no Rio. São 38% nessa categoria. Crivella e Frossard teriam, cada um, 17% dos votos de quem escolherá a senadora do PSOL para presidente. A candidata Heloísa Helena só transfere 2% dos votos de seus eleitores para Milton Temer, candidato do PSOL ao governo do estado.
Para o professor Eurico Figueiredo, coordenador do programa de pós-graduação de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, o resultado da pesquisa mostra a desfiguração do quadro político e ideológico dos partidos:
- O eleitor tende a ver difusamente a posição doutrinária dos partidos. Isso mostra a necessidade de reforma política que permita ao eleitor ter mais clareza em relação às posturas políticas e ideológicas em jogo.
Jandira lidera disputa pelo Senado no Rio, com 20%
Figueiredo acha também que o candidato estadual tem mais facilidade para transferir votos para o candidato a presidente:
- Nos estados, infelizmente, ainda existe o curral eleitoral, do fisiologismo, do coronelismo. Eles são muito mais atuantes do que se pretenderia supor num regime político mais moderno. Existe favor em troca de voto.
A pesquisa mostrou ainda que 47% das pessoas que afirmam votar nulo na eleição presidencial, 48% repetiriam o voto na disputa estadual. Em segundo lugar na preferência destes eleitores, aparece Sérgio Cabral, com 20% das intenções; 16% deles votariam em Crivella e apenas 3% escolheriam Denise Frossard.
Na disputa pelo Senado no Rio, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) aparece na frente, com 20% das intenções. Ela está na coligação do PT no estado. Apoiado por Sérgio Cabral, o deputado federal Francisco Dornelles (PP) está em segundo, com 15%. Ronaldo Cezar Coelho (PSDB) em terceiro lugar, com 8% e Alfredo Sirkis (PV) em quinto, com 3%. Rosangela Gomes (PRB) e Carlos César (PCO) vêm em seguida, com 2% cada. Dayse Oliveira, Oswaldo Souza (PRP), Antonio Manoel de Souza (PSL), Dr. Edialeda (PDT), Raymundo Oliveira (PCB), Arlindo Silva (PRTB), Sued Nogueira da Silva (PT do B) têm 1%. Os candidatos Ornisson Fernandes (PHS) e Jimmy Pereira (PSDC) não atingiram 1%.
O Datafolha também avaliou o desempenho da governadora Rosinha Garotinho, reprovada por 39% dos entrevistados, cinco pontos acima da última pesquisa. O índice chega a 49% na capital. O candidato a governador do PMDB, que tenta dissociar sua imagem à da governadora, principalmente na cidade do Rio, diz que a reprovação não influencia sua campanha:
- São análises diferentes. Não sou candidato de ninguém.
O instituto ouviu 1.243 eleitores em 34 municípios do Rio. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o número TRE/RJ 45797/2006.
De Frossard para a nau de Cabral
Estratégia de Cesar Maia esbarra em simulação de 2º turno
A estratégia do prefeito Cesar Maia (PFL) parece, por enquanto, sem rumo, pelo resultado da pesquisa Datafolha. Segundo o instituto, num segundo turno entre Sérgio Cabral (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB), 62% dos eleitores de Frossard optariam pelo candidato do PMDB contra 15% que votariam em Crivella. Os números contrariam os planos de Cesar Maia, que decidiu evitar bater no candidato do PRB e atacar Cabral.
A tendência parece não surpreender Cesar Maia, que diz que Cabral está "inchado" por ser o candidato mais conhecido hoje. Para ele, o quadro sofrerá mudanças depois de 15 de agosto, quando começa a campanha eleitoral gratuita na TV e no rádio:
- A campanha informa e esclarece. Quando se repetir essa pesquisa no início de agosto, o resultado será diferente. Pesquisas tratam de uma situação em função da informação que tem o eleitor. Se não fosse assim a eleição terminaria na primeira pesquisa.
A maioria dos eleitores de Eduardo Paes (PSDB), 54%, também votaria em Cabral num segundo turno contra Crivella. Sobre os números que o favorecem, Cabral diz que o eleitor "está acima das disputas políticas".
Temer: crime está ligado à sonegação
Candidato promete enfrentar criminalidade e critica o caveirão
Ao comentar ontem, em entrevista à Rádio CBN, sua pequena probabilidade de vencer as eleições ao governo do Rio, o candidato do PSOL, Milton Temer - que segundo pesquisa do Datafolha divulgada esta semana tem 1% das intenções de votos - disse que sua principal tarefa na campanha é ser cabo eleitoral da candidata do partido à Presidência, Heloísa Helena.
- A tarefa fundamental é ser um cabo eleitoral, organizador da campanha de Heloísa e dos nossos parlamentares, que queremos levar à Câmara dos Deputados e à Assembléia Legislativa - explicou ele. - Política para mim não é profissão, é missão.
Se eleito, Temer diz que dará prioridade ao enfrentamento do crime organizado.
- Não o que o senso comum quer impor, e faz com que certos candidatos tenham medo de subir em favela ou defendam o caveirão - disse ele, para quem o combate ao crime está ligado à sonegação fiscal. - É uma das fontes de corrupção oculta. A parte do crime organizado que não se vê. É o propinoduto. Você não cobra na Justiça a sonegação porque recebe por fora um percentual para não cobrar.
Temer aproveitou para associar seu adversário do PMDB, Sérgio Cabral, à governadora Rosinha e a Anthony Garotinho, a quem acusou de responsáveis pelo "estado de absoluta calamidade" do Rio. E expôs propostas para educação, saúde e habitação, dizendo de onde pretende tirar verbas para executá-las:
- Quero privatizar a dívida ativa. O estado não tem como cobrar R$18 bilhões (em dívidas de impostos)? Então vamos vender a dívida no mercado.