Título: Advogada e tesoureiros de facção presos em SP
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 21/07/2006, O País, p. 11

Investigação leva à prisão de 22 integrantes de organização criminosa; grupo vendia 150 quilos de cocaína por mês

SÃO PAULO. Um dos principais braços financeiros da maior organização criminosa que atua nos presídios de São Paulo foi desmantelado ontem com a prisão de 22 pessoas. Entre os presos, alguns acusados de participar dos atentados no estado, estão dois tesoureiros da quadrilha e a advogada Maria Cristina Rachado - que defendia o chefe da facção, Marcos Wilians Herbas Camacho, o Marcola. Ela teve seu registro profissional suspenso pela OAB por 90 dias, acusada de ter comprado a gravação de um depoimento de dois delegados da Polícia Civil à CPI do Tráfico de Armas.

Sem ligação direta com o QG da cocaína, a advogada foi presa ontem em sua casa sob acusação de participar diretamente da organização criminosa. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça mostraram que ela utilizou criminosos da quadrilha para ameaçar um desafeto. Um cliente da advogada, que a contratou para defender a sogra, disse que ia denunciá-la à OAB por não ter conseguido evitar a prisão da parente. Maria Cristina ligou para um integrante da facção, que ameaçou seu cliente de morte caso não parasse de importuná-la.

- Os pedidos dela se transformavam em atos. Na interceptação telefônica nós pegamos a ameaça de morte a mando dela e isso foi confirmado em depoimento - disse o delegado Ruy Ferraz Fontes, que comandou a operação das prisões dos criminosos ligados à facção.

Advogada teria tentado se jogar do carro da polícia

Ao ser presa, Maria Cristina teria tentado se jogar do carro da polícia ao ser conduzida ao Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), onde passou a noite. Ela teria dito aos policiais preferir morrer a ir para a prisão. Ela receberia R$5 mil fixos por mês da facção criminosa e negociaria um pagamento extra de R$1,5 mil para cada diligência que fizesse. A advogada é casada com o delegado de polícia licenciado José Augusto Rachado.

As prisões de ontem e quarta-feira começaram quando a polícia descobriu uma casa na Zona Oeste de São Paulo que servia de QG para o braço do tráfico do grupo. Com a venda de cocaína, a facção obteve em maio lucro de R$224 mil, segundo anotações achadas em livro de contabilidade.

De acordo com a polícia, a cada dez dias eram vendidos 50 quilos da droga. No local foram apreendidos vários pacotes prensados da droga que totalizam cerca de 21 quilos e R$35 mil em dinheiro, da arrecadação de alguns dias. A chefe do QG, Marlene Simões, de 33 anos, foi presa em flagrante. Ela era o caixa do grupo criminoso, encarregada de comprar, vender, entregar e receber pela venda da cocaína.

Com a gerente financeira do tráfico foi preso também Leandro Souza de Queiroz, que fiscalizava o trabalho de Marlene e era o chefe das operações do bando na Zona Oeste da capital. Ele repassava o dinheiro do lucro com a cocaína para os chefes nas prisões e para outras operações. Leandro negou que tenha participação com o grupo criminoso.

Para o promotor Márcio Christiano, do Ministério Público, que acompanhou parte das prisões feitas pela polícia ontem e quarta-feira, as prisões representam um duro golpe no crime organizado, mas não o fim da facção:

- É principalmente uma derrota por ser talvez a oportunidade de mapeamento inédito de suas atividades. Mas isso não significa o fim do crime porque existe a possibilidade de se reorganizarem.

Outro preso ontem foi Oswaldo Cosmo da Cunha, que fazia o conserto de todas armas utilizadas pelos criminosos da Zona Oeste que integram a facção. Com ele, no bairro Pirituba, foi apreendido um fuzil que seria de Vagner Ferreira de Lima, o Xuxinha. Na escuta telefônica feita pela polícia, Eduardo Ferreira de Souza, o Du, tido como integrante da facção, fala que levou o fuzil de Xuxinha para o armeiro consertar.

- Esse grupo do crime organizado não tem uma estrutura de organização da forma tradicional, hierarquizada, em forma de pirâmide. A organização tem uma maneira circular, mais complexa, concêntrica - disse o promotor Márcio Christiano.

Uma das formas de organização do grupo, segundo a polícia, pode ser entendida a partir do QG da droga que caiu ontem. Marlene, que controlava todas as operações de compra, venda e distribuição da cocaína, era fiscalizada por Leandro. Por sua vez, Leandro não interferia diretamente no trabalho dela, mas era o chefe da Zona Oeste e controlava todas as ações da organização na área, recebendo ordens diretas dos chefes que estão nos presídios.

Acusado aliciava menores

Adolescentes recebiam R$20 para distribuir panfletos de quadrilha

SÃO PAULO. A polícia paulista prendeu Darcio Candido da Silva, de 38 anos, acusado de ser um dos tesoureiros da facção criminosa responsável pelos atentados na cidade e de produzir panfletos que defendem os direitos humanos nas prisões paulistas e criticam o governo e as condições nas penitenciárias. O criminoso aliciava menores para distribuir os panfletos.

Silva, foragido da Justiça, foi preso anteontem à noite em sua casa, no Jardim Lajeado, na Zona Leste de São Paulo. Além de folhetos, a polícia também encontrou cadernos com a contabilidade de criminosos que fazem parte da facção, seis celulares, dois rádios de comunicação, três toucas ninjas e R$2.570 em dinheiro.

Segundo Antônio Carlos da Silva, delegado titular do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o conteúdo dos panfletos produzidos a mando da facção teria a intenção de colocar a população contra o governo, contra o sistema penitenciário e a polícia. O delegado informou que o criminoso é um dos tesoureiros da facção. Silva admitiu ser integrante da facção criminosa há quatro anos. Disse que produziu 5 mil folhetos, que vinham sendo distribuídos por adolescentes, que receberiam R$20 pelo serviço.

Em um dos cadernos encontrados na casa do tesoureiro há fichas de pelo menos dez integrantes do grupo criminoso, com nomes completos, números de matrículas e de celulares, além da quantia que cada um deveria pagar ou receber. Os valores variam entre R$100 e R$550.

Silva foi indiciado por formação de quadrilha, incitação ao crime, tráfico de drogas e falsidade ideológica. O delegado disse que ele traficava drogas em Guaianazes e em Ferraz de Vasconcelos.