Título: PROMOTOR PEDE 50 ANOS DE PRISÃO PARA SUZANE
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 21/07/2006, O País, p. 12

Mesma pena é pedida para irmãos Cravinhos; sentença dos três réus confessos da morte dos Richthofen pode sair hoje

SÃO PAULO. Suzane von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos deverão ser condenados hoje a penas que vão de 24 a 60 anos de prisão pelo assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen. Mas poderão ficar na cadeia por apenas mais quatro meses, caso o juiz decida pela pena mínima. É que, nesse caso, os três, depois de cumprirem um sexto da pena - quatro anos - podem pedir a progressão do regime. Como já estiveram presos por três anos e oito meses, Suzane, Daniel e Cristian podem deixar a prisão em 120 dias.

A tendência é que os três sejam condenados a 50 anos de prisão - 25 anos para cada morte - como a Promotoria Criminal pretende pedir hoje. Mesmo nesse caso, os três ficariam na prisão em regime fechado por somente mais quatro anos - um sexto da pena são oito anos e eles já cumpriram quase quatro.

Depois de confessarem ter participado da morte do casal e enfrentarem cinco dias de julgamento, os três terão hoje o destino selado por quatro homens e três mulheres que compõem o conselho de sentença.

Chances de absolvição são remotas

Assim que bater o martelo, depois de exaustivas sessões diárias de até 15 horas desde segunda-feira, o juiz Alberto Anderson Filho, presidente do Tribunal de Júri, deve mandar de volta à cadeia os três jovens que chocaram o país pela crueldade com que planejaram e executaram a morte do casal. Eles têm remotas chances de absolvição.

Suzane e os irmãos Cravinhos respondem por duplo assassinado com motivo torpe (mataram por dinheiro), sem dar possibilidade às vítimas (que estavam dormindo) e com meio cruel (pauladas, estrangulamento e asfixia). No plenário, a preocupação era sobre quantos anos de prisão o juiz poderia decretar. Se a pena for igual ou superior a 20 anos, segundo o Código de Processo Penal, obrigatoriamente um novo julgamento é marcado.

- Não trabalho pela lei do mínimo esforço. Não vou pedir uma pena de 19 anos, 11 meses e 29 dias só para evitar um novo julgamento. Vou pedir uma pena que acredito que eles merecem - disse o promotor Roberto Tardelli.

Assim que terminar a sessão de hoje, Suzane, se condenada, deve ser levada de volta para o Centro de Ressocialização de Rio Claro, onde ficou presa a maior parte do tempo. Lá, segundo agentes penitenciários, foi ameaçada de morte duas vezes durante rebeliões. Já os irmãos Cravinhos poderão ficar no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na capital paulistana.

Jurados responderão cerca de cem perguntas

Para tomar a decisão sobre a absolvição ou condenação dos três, os sete jurados terão de responder com sim ou não a um questionário com cerca de cem quesitos, entre eles: 1) Quem matou?; 2) Suzane controlava Daniel?; 3) Suzane tinha interesse na morte dos pais?; 4) Daniel era sustentado por Suzane?, entre outros.

Com essas respostas em mãos, o juiz determina a pena dos acusados. Antes disso, a sessão ficará por conta do debate entre acusação e defesa. O embate vai durar oito horas, entre argumentações, réplica e tréplica, e pode adentrar a madrugada de sábado. Depois, os jurados se reúnem para o veredito. A leitura da sentença terá duas horas.

- Se tudo der certo vamos terminar o julgamento amanhã (hoje). Jurados, advogados, promotores, funcionários e eu mesmo estamos muito cansados - disse ontem o juiz.

Antes de ir para a sala do 1ºTribunal do Júri hoje, o juiz Alberto Anderson Filho, de 52 anos, pretende acordar bem cedo, às 7h, e ir à missa na Igreja de São Bento ou de São Luiz, no centro de São Paulo, onde está morando temporariamente num hotel. O juiz vive em Campinas.

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Reconstituição do crime é mostrada no tribunal

Réus ficam de costas para os telões

SÃO PAULO. A exibição ontem em dois grandes telões da reconstituição da morte de Marísia e Manfred von Richthofen, realizada pela polícia dias após o crime com a participação de Suzane von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, mostra que foi a garota quem abriu a porta de casa para os dois.

Os Cravinhos subiram as escadas depois que ela acendeu as luzes do hall. Suzane fez sinal de positivo para que eles subissem até o quarto do casal e, enquanto os pais eram executados, ficou na biblioteca da casa com os ouvidos.

Ontem, antes da exibição, Suzane levou as mãos aos olhos e ao nariz e deu a impressão de que estava chorando. Advogados sentados em frente a ele, porém, disseram que a garota aparentemente estava resfriada. No plenário, os três réus permaneceram de costas para os telões, onde imagens gravadas em DVD apresentam entrevistas com cada um deles antes que refizessem as cenas do crime. Suzane, usando na época calça e jaqueta jeans, confessou que, naquele dia, separou sacos plásticos, a pedido dos Cravinhos.

Na tela, assim como nos depoimentos, Daniel e Cristian também confessaram tudo o que aconteceu naquela noite. Os dois entraram na casa pela janela Suzane, na biblioteca, abria o cofre de casa e retirava uma caixa com dinheiro e jóias.

- Era para parecer que ladrões tinham invadido e para não deixar pegadas - disse Cristian a um policial.

Ainda nas imagens da tela, reproduzindo a reconstituição, Daniel fingiu dar pauladas contra o agente que se passava por Manfred. Cristian partiu para cima da agente que se fingia de Marísia. As imagens foram ontem o ponto alto da sessão de leitura dos autos do processo ontem.

O dia foi marcado também pelo clima de suspense quanto à defesa. Depois de três dias com bronquite, o advogado de Suzane, Mauro Nacif, teve de ser internado às pressas numa clínica oftalmológica para tratar de um descolamento de retina. O episódio chegou a ser interpretado como uma possível manobra para prejudicar o julgamento.

À tarde, Nacif voltou ao tribunal. Antes o juiz Alberto Anderson Filho descartara a possibilidade de o julgamento ser prejudicado com a ausência de Nacif:

- Se ele não vier, Suzane tem outro advogado. Não vejo razão de suspender ou cancelar o julgamento.