Título: Sadia aumenta oferta para comprar Perdigão
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 21/07/2006, Economia, p. 30

Empresa eleva proposta em 4%, para R$3,872 bilhões, mas fundo de pensão do BB diz que não aceita preço

SÃO PAULO e RIO. A Sadia anunciou ontem uma nova proposta pelo controle da Perdigão, mas outra vez a reação de acionistas foi negativa. A empresa reajustou de R$27,88 para R$29 - um aumento de 4% - o preço que aceita pagar por ação da concorrente em negociação no mercado. Por esse valor, a Sadia desembolsaria R$3,872 bilhões por 100% do capital da Perdigão, contra R$3,723 bilhões antes.

A nova oferta foi aprovada em reunião do Conselho de Administração da Sadia e encaminhada, no início da noite, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Pouco depois, a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BB), informou que não aceita o preço de R$29, por considerá-lo baixo. A decisão da Previ, maior acionista individual da Perdigão (com 15,72%), pode influenciar a posição dos demais acionistas.

"A administração da Sadia informa a sua decisão de modificar o preço de oferta, em benefício de todos os acionistas da Perdigão destinatários da oferta, o qual passa a ser de R$29 por ação de emissão da Perdigão, atualizado a partir desta data pelo IPCA", diz comunicado da Sadia, assinado por seu diretor de Finanças e de Relações com Investidores, Luiz Gonzaga Murat Júnior.

O texto acrescenta que ficam "ratificados todos os demais termos e condições" da oferta inicial. Como a Perdigão tem controle difuso, a Sadia pretende fazer oferta pública em bolsa para comprar pelo menos 50% mais uma ação da rival, numa operação conhecida no mercado como "oferta hostil" - porque não implica consulta prévia aos maiores acionistas ou controladores.

Bancos estimam preço dopapel entre R$35 e R$37

Os grandes fundos de pensão e a fabricante de motores Weg, donos de 55,38% do capital da Perdigão, rejeitaram a primeira oferta com o argumento de que estava "aquém das expectativas". O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, citou avaliação de vários bancos pela qual o preço-alvo dos papéis oscilaria entre R$35 e R$37.

Outra pedra colocada no caminho do entendimento teve caráter formal. A Perdigão alegou que a Sadia fez uma "leitura equivocada" do seu estatuto social, ao anunciar uma oferta de preço por 100% das ações. Pelo entendimento da empresa, a Sadia só poderia fazer a oferta se fosse dona de ao menos 20% das ações da rival. Em tese, esse impedimento jurídico continua a existir na segunda proposta.

- São os acionistas que precisarão se reunir outra vez para avaliar a nova proposta da Sadia - afirmou o diretor de Relações Institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes.

Ações da Perdigão subiram mais de 40% em duas semanas

Desde o início da semana passada, os papéis da Perdigão acumulam valorização de 40,29% - 24,13% desde o anúncio da oferta, na última segunda-feira. Os da Sadia, por sua vez, subiram 15,94% no período - 8,77% desde segunda. A grande movimentação com os papéis na semana anterior à oferta levantou no mercado suspeitas de vazamento de informações.

As ações da Perdigão, por exemplo, vinham caindo há cinco semanas, antes de registrar a forte alta. Por isso, a CVM pediu esclarecimentos à Sadia, responsável pelo negócio, sobre a oscilação fora do padrão. Até ontem, a empresa ainda não havia se justificado à CVM.

Ontem, as ações da Perdigão subiram 4,38%, cotadas a R$28,55 para venda. Já as da Sadia avançaram 0,16%, para R$6,11.

A Perdigão lança hoje nova campanha institucional. Ao custo de R$30 milhões, irá explorar o conceito "Perdigão. Todo mundo adora". Segundo a empresa, os anúncios ressaltarão a expansão de 14% em média nos últimos anos e as exportações para mais de 100 países.

COLABOROU Patricia Eloy