Título: PROMOTOR ACUSA SUZANE DE CRIME MACABRO
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 22/07/2006, O País, p. 16

Acusação diz que tudo foi planejado e que ela e os irmãos Cravinhos mataram porque queriam dinheiro

SÃO PAULO. No quinto e último dia de julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, o júri foi ontem dos promotores de acusação e dos advogados de defesa, que tiveram três horas, cada lado, para tentar convencer os jurados. Diante do choro compulsivo dos irmãos Cravinhos e da frieza de Suzane, a Promotoria Criminal direcionou a acusação contra os três, reforçando a tese de que planejaram friamente a morte do casal Manfred e Marísia von Richthofen e tinham interesse no dinheiro da família. Com o dedo em riste, o promotor Nadir de Campos classificou a atitude deles de ¿asquerosa, nojenta e abjeta¿.

Os promotores pediram a condenação e uma pena de 50 anos de prisão (25 para cada assassinato) para Suzane e os irmãos Cravinhos. A previsão era que o veredito fosse anunciado entre o fim da noite de ontem e as primeiras horas deste sábado. Sem poupar ironias ao falar das contradições dos depoimentos, a Promotoria fez questão de associar os três em torno do plano e da execução do bárbaro crime.

¿ Tudo foi macabramente planejado ¿ começou Roberto Tardelli, primeiro promotor a acusar os três, sentados lado a lado, cabisbaixos.

Tardelli tentou a todo custo derrubar a tese de que Daniel e Suzane foram manipulados um pelo outro.

¿ Fizeram o que fizeram porque quiseram ¿ disse.

`Cérebro casado com coragem¿

Para o promotor, Daniel e Suzane tinham o mesmo interesse, mas a garota entrou no plano como a mentora, enquanto ele foi o executor.

¿ Suzane é igual a um ônibus, passa de ponto em ponto contando a mesma história. Já Daniel é essa pessoa que vocês estão vendo, emocional, descontrolado. Foi o casamento do cérebro com a coragem.

Tardelli afirmou que os pais dos Cravinhos também foram mortos simbolicamente por Suzane. Na platéia, Astrogildo e Nadja Cravinhos acompanhavam enxugando lágrimas, principalmente quando Daniel não se conteve com a fúria com que o promotor Nadir Campos, o segundo a falar, partiu contra ele.

¿ O senhor tinha um revólver, mas bateu, bateu, bateu. Um meio cruel que deve ser banido ¿ gritava Nadir.

Daniel, aos prantos, foi envolvido pelo irmão com os seus braços algemados. O juiz Alberto Anderson Filho permitiu que deixassem a sala de audiência. Na volta, Daniel ouviu ainda a acusação de que mentira sobre ser controlado por um espírito chamado Negão. Nadir, que é negro, não se conteve:

¿ Estou aqui, Daniel. O espírito do Negão se materializou e está aqui na sua frente para dizer que o que o senhor fez foi um ato asqueroso.

Segundo Tardelli, se um dos dois fosse manipulado pelo outro, alguém teria falhado.

¿ Eles entraram no quarto do casal, quando eles viajavam, para testar o barulho de um tiro ¿ disse Tardelli.

Nadir Campos, ainda exaltado, voltou a atacar Daniel.

¿ Esse rapaz, que agora diz que estava fora de controle, não só foi para um motel depois do crime como ainda escolheu a suíte presidencial.

Num momento tenso, Tardelli mostrou os sacos plásticos com os quais Marísia e Manfred foram asfixiados. E mostrou que, antes de roubar o dinheiro, fizeram um corte simétrico na pasta.

¿ Como alguém que diz ter ficado fora de si conseguiu, depois de matar uma pessoa, fazer esse corte tão retinho, e com faca de cozinha?